“- Você não deveria estar fumando.
– E por acaso alguém no mundo deveria fumar?”
Com pequenas verdades como esta ditas de forma espontânea e escrita com aquela genialidade que só coisas simples podem ter, é que esta adaptação de uma peça de teatro homônima consegue ser desde já um dos grandes candidatos a indicações ao Oscar.
Com um elenco de fazer inveja a qualquer produção, a história que se passa nas pradarias americanas fala sobre o desaparecimento do patriarca da família Weston (Sam Shepard de “Amor Bandido”) fazendo com que suas três filhas Barbara (Julia Roberts de “Espelho, Espelho Meu”), Karen (Juliette Lewis de “Fuga para Las Vegas”) e Ivy (Julianne Nicholson de séries de TV como “Master of Sex”) voltem pra casa para consolar sua mãe Violet (Meryl Streep de “A Dama de Ferro”), uma mulher amarga, viciada em remédios, fumante inveterada e com câncer na boca devido ao vício do tabaco. A união de todos esses membros e mais seus agregados vai desencadear uma série de conflitos e segredos revelados que vão abalar ainda mais a já frágil estrutura dessa família.
Neste segundo longa metragem do diretor John Wells, ele sabiamente deixa a cargo do roteirista e autor da peça Tracy Letts as sofisticadas sacadas de diálogos e situações, ao desempenho do sensacional elenco e apenas coordena com pulso firme o brilhantismo dessa combinação de história e pessoas. Meryl Streep está sensacional e deve garantir mais uma indicação a diversos prêmios do cinema. Ela entra no papel com uma voracidade incrível, demonstrando uma dicotomia entre sua fragilidade física e sua dureza de espírito. Julia Roberts tem aqui uma de suas melhores performances da carreira e demonstra uma química ímpar com Streep. Aliás, está química permeia praticamente todos os personagens da trama.
Outro grande feito foi mostrar um drama pesado com fortes toques de humor sem nunca tirar a seriedade da situação em que as pessoas retratadas se encontra. Chega a ser hilário, próximo ao final por exemplo, uma das grandes revelações feitas por Violet de uma forma que o espectador ficará dividido entre gargalhar e chorar devido a seu conteúdo. E é mais ou menos esse o tom que o filme assume sem jamais desvirtuar de seu gênero.
Os aspectos técnicos tão são indefectíveis: a fotografia árida do brasileiríssimo Adriano Goldman (“360”) que faz o calor ser praticamente um personagem que agoniza junto à triste história, bem como a tocante trilha de Gustavo Santaolalla (“Na Estrada”) que demonstra a sensibilidade de todas as situações sem chamar atenção para si.
O grande diferencial de “Álbum de Família” é ser um filme sem mocinhos ou bandidos, lições de moral ou redenções ao final. Porém com uma carga dramática que fala por si só e com o real significado da família sobre aqueles que mais nos amam também podem ser nosso maior tormento. Para fechar 2013 com o que há de melhor e mais inteligente no cinema.
Ficha Técnica
Elenco:
Meryl Streep
Julia Roberts
Chris Cooper
Ewan McGregor
Margo Martindale
Sam Shepard
Dermot Mulroney
Julianne Nicholson
Juliette Lewis
Abigail Breslin
Benedict Cumberbatch
Misty Upham
Direção:
John Wells
Produção:
George Clooney
Jean Doumanian
Grant Heslov
Steve Traxler
Harvey Weinstein
Fotografia:
Adriano Goldman
Trilha Sonora:
Gustavo Santaolalla
