Docinho da América (“American Honey”)

Seja numa época pré ou pós posse do controverso Donald Trump como Presidente dessa nação que se auto intitula equivocadamente com o nome do continente que a abriga, nunca foi tão interessante uma obra independente que mostra o paradoxo chamado EUA.

Formado basicamente por pessoas desconhecidas que a produção recrutou, o país é incorporado pela adolescente Star (Sacha Lane estreando) que cuida de duas crianças que não são dele e é molestada constantemente pelo dono da casa onde mora. Até que num rompante, ela abandona tudo quando conhece uma trupe de caixeiros viajantes que vendem revistas onde o mais experiente é Jake (Shia LaBeouf de “Corações de Ferro”, praticamente o único ator conhecido) e que se torna seu interesse amoroso.

Como o país em que ela mora, Star é uma jovem decadente e o filme é inteligente em focar em seu falar errado, em suas roupas que mais parecem trapos hippies com direito a dreads no cabelo e até na sua unha com esmalte carcomido. Ao se juntar com esse grupo de jovens vendedores que nem ela, com sonhos que nem sabem que tem e que vivem o agora, entre drogas e trocados, há uma falsa sensação de pertencer em que o próprio isolamento de Star e sua dependência emocional e problemática com Jake fazem uma analogia à questionável união do povo americano e sua desigual distribuição de renda.

A grande sacada do roteiro é que apesar de tudo, ela não é uma coitadinha. Pelo contrário: mesmo sendo aparentemente submissa, a protagonista é egoísta, rebelde, com caráter duvidoso e tem facilidade pra perdoar a si própria de todos os seus erros com pequenas benesses a desconhecidos. Então o público sempre fica numa relação dúbia com a jovem, o que é a força motriz da produção.

Praticamente todo filmado com uma câmera de mão, a diretora Andrea Arnold faz cortes precisos para destacar detalhes que passam a mensagem que ela quer, como a já citada unha de Star ou o tipo de moléstia que ela sofria ou quando se quer que o espectador preste atenção em algum ponto do cenário, ela edita e dá o foco no local determinado, e tudo utilizando praticamente iluminação natural.

Pontuado por uma trilha de músicas desconhecidas, mas escolhidas a dedo, a narrativa é uma viagem onde a diretora se empolgou tanto que o “tempo de vôo” é de quase três horas, excessivo para mostrar seu ponto de vista. Mesmo com todos os predicados positivos possíveis, consegue cansar os menos bravos.

Docinho da América” mostra o retrato de uma esperança vã, frente a decadência de um país que se reflete em seu próprio povo, numa viagem longa, mas alucinante.

Curiosidades:

– Com exceção de Shia LaBeouf, a maioria dos atores foi escolhida no meio da rua ou em praias.
– Quando Sascha Lane foi abordada na praia pelos produtores, ela pensou que se tratava de um convite para um filme pornô. Ela estava numa praia na Cidade do Panamá.
– Shia LaBeouf adquiriu doze tatuagens durante as filmagens.
– Shia LaBeouf e Sacha Lane atualmente estão namorando.

Ficha Técnica

Elenco:
Sasha Lane
Shia LaBeouf
Riley Keough
McCaul Lombardi
Arielle Holmes
Crystal Ice
Veronica Ezell
Chad Cox
Garry Howell
Kenneth Kory Tucker
Raymond Coalson
Isaiah Stone
Dakota Powers
Shawna Rae Moseley
Christopher David Wright
Summer Hunsaker
Brody Hunsaker
Johnny Pierce II
Chasity Hunsaker
Michael Hunsaker
Kaylin Mally

Direção:
Andrea Arnold

Produção:
Thomas Benski
Lars Knudsen
Lucas Ochoa
Pouya Shahbazian
Jay Van Hoy
Alice Weinberg

Fotografia:
Robbie Ryan

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