Esquadrão Suicida (“Suicide Squad”)

Se alguém ainda tinha dúvidas, agora não tem mais: a DC Comics tem pressa. Muita pressa. Tanta que o universo que a Marvel demorou mais de quinze anos pra construir em “X-Men” e dez anos para “Os Vingadores”, a DC quer fazer em três. E como a pressa é inimiga da perfeição, o resultado não podia ser outro: ótimas premissas envolvendo ótimas histórias, sendo jogadas de qualquer jeito na cara do espectador e consequentemente desperdiçadas, quer ele absorva ou não.

Após os eventos de “Batman vs. Superman”, a agente do Pantágono Amanda Waller (Viola Davis de “James Brown”) tem a perigosa idéia de montar um esquadrão formado com os piores vilões da cidade para missões perigosas ou praticamente suicidas.

Daí aparece uma montagem de músicas que vão mostrando a origem desses anti-heróis, alguns inclusive capturados pelo Batman e outro super-herói surpresa. E é aí que tudo começa errado: personagens ricos em história são mostrados sem qualquer cuidado em flashbacks relâmpago, inclusive os principais, Deadshot e Harley Queen (Will Smith e Margot Robbie que coincidentemente trabalharam juntos em “Golpe Duplo”). Aliás, se a Marvel sabe dosar o tempo de tela em todos os seus heróis, até mesmo os aparentemente menos relevantes (Ex: o Gavião Arqueiro com uma bela história), na DC, esse filme também podia se chamar ao invés de “Esquadrão Suicida”, “Deadshot & Harley Queen feat. Coringa e o Resto”, tamanha é a discrepância entre os demais membros. Alguns por si só mereciam filmes solo anteriores (espero que a DC pense nisso depois).

Então a história segue colocando nossos anti-heróis para enfrentar a Bruxa (Cara Delevingne de “Cidades de Papel” que como atriz é ótima modelo) num tiro no pé que o próprio pentágono dá. A missão é liderada pelo agente Rick Flag (o canastríssimo Joel Kinnaman de “Noite Sem Fim”), revelando um romance prévio entre ele e a Bruxa, diga-se de passagem, outra história com ótimo potencial que simplesmente é jogada fora pelo roteiro.

Enquanto isso o Coringa tenta reaver sua Harley Queen, e chegamos a Jared Leto, oscarizado por “Clube de Compras Dallas” e seu Coringa que fica há anos luz do icônico e saudoso Heath Ledger e até do caricato Jack Nicholson, mostrando-se como um mero mafioso com um parafuso a menos e uma risada a mais.

O diretor David Ayer do sensacional “Corações de Ferro” não poupou o espectador de cenas constrangedoras como o clímax oitentista que lembra até mesmo o último ato do clássico “Caça-Fantasmas” (só que lá muito melhor usado) com uma vilã que fica rebolando (só faltou colocar o É O Tchan pra tocar) ao usar seu poder pra construir uma máquina (oi???) para acabar com os humanos (que por sinal faz qualquer coisa, menos isso) e ainda, com todo esse poder, faz uma luta mano a mano com o esquadrão sabe-se Deus porque.

Talvez a melhor personagem e a mais bem usada no filme – provavelmente mais mérito da atriz do que do roteiro – é a própria agente Amanda Waller, onde Viola Davis dá mais um show como uma personagem complexa e de caráter questionável. Não é a toa que todos os tão ditos vilões parecem morrer de medo dela.

Os efeitos especiais são assépticos e feitos para esconder uma violência que insinua pouco para mostrar menos ainda. As próprias criaturas convocadas pela vilã não têm um rosto ou forma definida para que sua morte não seja sentida como uma baixa real. Na verdade, da maneira que a produção foi executada, nenhum personagem parece importar. Tanto que independentemente do risco que qualquer um corra, o público nada vai sentir, visto que ninguém do outro lado da tela foi desenvolvido suficientemente bem para que nos importemos com ele. Até mesmo a cena depois dos créditos é boba, visto que parece ser um replay conceitual do já visto em “Batman vs. Superman”.

O destaque óbvio, desde os trailers, é a ótima trilha sonora de Steven Price também de “Corações de Ferro” e a supervisão musical que coloca uma playlist que vai de Queen a Eminem, passando por The Rolling Stones, AC/DC, Black Sabbath, The White Stripes e até mesmo Bee Gees.

Talvez a DC ainda faça filmes explicando melhor e mostrando mais desses anti-heróis e suas boas histórias. Talvez até um filme solo do Batman com o Coringa e Harley Queen. Ou mesmo uma versão estendida para DVD que tenha uma narrativa mais consistente (meia hora de filme ficou na sala de edição). Mas por enquanto é isso que temos pra hoje. E o que temos, fora um filme de ação genérico, não é muito promissor.

Curiosidades:

– Na descrição das armas usadas por Deadshot há uma bazuca de batatas.
– Na descrição dos crimes de Harley Queen passa rapidamente o texto “Ajudante no assassinato de Robin” (já daria um filme, hein?)
– O universo cinematográfico da DC é completamente diferente do universo televisivo onde já existem as séries “Arqueiro”, “Flash” e “Supergirl”. Alguns membros do Esquadrão Suicida interpretados por outros artistas já apareceram nessas séries.
– Jared Leto incorporou o Coringa a todo momento, inclusive fora das gravações o que levou ao elenco dizer em uníssono que nunca chegaram a conhecer o ator em si.
– Como já dito, muitas cenas do filme foram cortadas (mais de meia hora), inclusive algumas só aparecem no trailer. Quase metade delas foi com o Coringa.
– Finalmente sabemos onde fica Gotham City: de acordo com as fichas de Deadshot e Harley Queen, está escrito que Gotham fica em New Jersey.
– O nome da gangue de El Diablo (Hillside) é a mesma em que o diretor usou em seu filme “Dia de Treinamento”.
– Quando Will Smith fez “Eu Sou a Lenda”, no futuro apocalíptico mostrado no filme, havia um cartaz de cinema com o filme “Batman vs. Superman”.

Ficha Técnica

Elenco:
Will Smith
Margot Robbie
Jared Leto
Viola Davis
Jai Courtney
Jay Hernandez
Adewale Akinnuoye-Agbaje
Cara Delevingne
Joel Kinnaman
Ted Whittall
David Harbour
Shailyn Pierre-Dixon
Jim Parrack
Common
Aidan Devine
Alain Chanoine
Matt Baram
Scott Eastwood
Kevin Vance
Adam Beach
Karen Fukuhara
Ezra Miller

Direção:
David Ayer

Produção:
Charles Roven
Richard Suckle

Fotografia:
Roman Vasyanov

Trilha Sonora:
Steven Price

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