Faroeste Caboclo

Num ano repleto de homenagens ao Legião Urbana, que teve inclusive o ótimo “Somos Tão Jovens”, não deixa de ser ousada a adaptação da música homônima de Renato Russo, uma tragédia aos moldes gregos do garoto pobre e mau que se apaixona, mas paga o preço de seus atos.

Conhecida por praticamente todos os brasileiros que vivem sob o mesmo planeta Terra, a música dita a história do filme de estréia em longas metragens do empresário, publicitário e agora diretor René Sampaio, o qual procura mostrar com correta fidelidade e poucas licenças poéticas a trajetória de João de Santo Cristo. Ele é interpretado por Fabrício Boliveira que personifica uma espécie de cosplay de Seu Jorge com a personalidade do Zé Pequeno de “Cidade de Deus”.

Retratando uma Brasília no início dos anos 80, bem na época em que o Legião Urbana dava seus primeiros passos (e é um brinde termos uma cena que se passa num de seus shows), a pobreza da Ceilândia adjacências é retratada com uma forte fotografia dessaturada, bem como a decadência moral de todos os personagens é pintada com profundo domínio de atuação do elenco. Além de Boliveira, o sensacional Cesar Troncoso do premiado “O Banheiro do Papa” como o complexo Pablo, o policial corrupto feito por um competente Antonio Calloni (que manda bem como vilão desde “Anjos do Sol”) e, finalmente, o perigoso e ao mesmo tempo hilário Felipe Abib como o famoso traficante Jeremias que sempre rouba a cena. Não dá pra deixar, entretanto, de falar sobre a belíssima que faz uma Maria Lúcia com garra, sendo um papel bem diferente do que estava acostumada. Só é uma pena que uma mulher tão linda e apaixonante apareça fumando em 90% das cenas. Espero que na vida real, não seja assim.

Outro destaque são as cenas de violência bem coreografadas e com efeitos especiais eficazes e em alguns casos surpreendentes no cinema nacional como na cena de uma execução logo após a fuga de uma prisão. A trilha sonora bem escolhida, mas pouco usada, vai desde o ótimo Legião Urbana, passando por outro brasiliense, o Plebe Rude, até alguns internacionais da época como Billy Idol.

O único ponto negativo na produção e que acomete a maioria dos filmes brasileiros é o ritmo irregular. Ao invés de dividir a narrativa em atos ou arcos, o roteirista não sai do vício de fazer uma divisão episódica ou em esquetes que repetem pequenos clímaces e hiatos de conteúdo, o que dá aquela sensação incômoda de uma duração acima do necessário, mas que se configura como falha narrativa e não tempo excessivo. Só não dá pra reclamar do desfecho, pois quem sabe a música tem que entender direitinho o caminho que vai trilhar ao entrar no cinema.

Dito isso, “Faroeste Caboclo” é uma boa surpresa com ótimos personagens e que prova que Renato Russo, com tantos predicados artísticos, ainda foi o grande contador de histórias. Será que devemos esperar em breve por “Eduardo e Mônica”?

Ficha Técnica

Elenco:
Fabrício Boliveira
Isis Valverde
Felipe Abib
Antonio Calloni
Marcos Paulo
Cinara Leal
Giuliano Manfredini
Rodrigo Pandolfo
Juliana Lohmann
Léo Rosa

Direção:
René Sampaio

Produção:
Daniel Filho

Fotografia:
Gustavo Hadba

Trilha Sonora:
Lucas Marcier

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