Talvez seja uma surpresa para os fãs da Marvel que o Pantera Negra Chadwick Boseman que apareceu gloriosamente em “Capitão América: Guerra Civil” foi escolhido justamente pelo seu visceral papel como ícone máximo do funk (não o carioca, please), James Brown.
O diretor Tate Taylor de “Histórias Cruzadas” conta de forma não linear como o garoto pobre abandonado pela mãe se tornou um adolescente delinquente, foi preso e resgatado por um conhecido que tinha afinidade com a música, Bobby Bird (Nelsan Ellis também de “Histórias Cruzadas”), e que juntos formaram uma banda e cresceram graças ao empresário Ben Bart (Dan Aykroyd de “Tammy”), fazendo com que James Brown despontasse e sua genialidade fosse conhecida em todo o mundo.
Se existe uma qualidade da produção é seu elenco: Boseman é a personificação dos trejeitos, voz e dança de Brown e mesmo sem tanta semelhança física (com a idade a maquiagem o faz parecer igualzinho, entretanto), sua atuação chega a ser impressionante. Viola Davis (“Hacker” e que brilha na série “How to get away with murderer”) mesmo com poucas cenas como a mãe do cantor, faz um trabalho digno de premiações para atriz coadjuvante. Nelsan Ellis e Dan Aykroyd estão no mínimo cativantes, sendo que este último faz o seu melhor papel da última década. A trilha musical obviamente é impecável e as apresentações são ótimas, apesar de um pouco mais que o necessário.
Já a direção de Tate Tayler mais complica do que explica: num formato onde a linha cronológica vai e vem, o espectador toma conhecimento de momentos ditos relevantes na vida do cantor, mas muitas vezes perde o fio da meada e deixa o público a ver navios. Por exemplo na primeira vez que Bobby deixa James Brown e magicamente a seguir – anos depois – aparece como se nada tivesse acontecido. É claro que se subentende que eles reataram, mas o fato de não estar no filme provoca um hiato. Não só esse como a vida pessoal de Brown pouquíssimo explorada, apenas quando é conveniente ou para dar efeito dramático.
A própria não linearidade às vezes perde o sentido como nas cenas envolvendo sua mãe que, salpicadas durante a projeção, só não perdem a profundidade porque Viola Davis está sensacional. E bem que se tenta quebrar a quarta parede com estilo, mas passam longe do que o mestre Clint Eastwood fez em “Jersey Boys: Em Busca da Música”.
“James Brown” é obrigatório pelo protagonista, elenco e música, mas comete alguns erros narrativos que prejudicam o resultado final.
Curiosidades:
– Dan Aykroyd, que interpreta o empresário Ben Bart, ja contracenou 3 vezes com o verdadeiro James Brown, sendo a primeira no clássico “Os Irmãos Cara de Pau” e depois na sua continuação.
– Apesar do filme mostrar 2 casamentos, James Brown se casou 4 vezes.
– Há uma cena onde aparecem os Rollings Stones (atores interpretando os cantores em versão jovens, é claro). Mick Jagger é um dos produtores do filme.
Ficha Técnica
Elenco:
Chadwick Boseman
Nelsan Ellis
Dan Aykroyd
Viola Davis
Lennie James
Fred Melamed
Craig Robinson
Jill Scott
Octavia Spencer
Josh Hopkins
Brandon Mychal Smith
Tika Sumpter
Aunjanue Ellis
Tariq Trotter
Aloe Blacc
Direção:
Tate Taylor
Produção:
Brian Grazer
Erica Huggins
Mick Jagger
Victoria Pearman
Tate Taylor
Fotografia:
Stephen Goldblatt
Trilha Sonora:
Thomas Newman
