Jogos Vorazes (“The Hunger Games”)

O fato é que muita gente sairá decepcionada do cinema. Principalmente aqueles não familiarizados com a trilogia escrita por Suzanne Collins. Não que a adaptação para o cinema de “Jogos Vorazes” seja de todo mal. Não é. Entretanto, mais uma vez o marketing de Hollywood vendeu o filme de forma equivocada. Eles venderam um filme de ação. Não é. É sim um bom drama. Compararam com as franquias “Harry Potter” e “Crepúsculo”. Está longe de qualquer um deles. Pelo menos nessa primeira parte.

Num futuro alternativo, no Estado fictício de Panem a humanidade se divide em distritos regidos por uma cidade-núcleo. Após uma rebelião dos distritos, a qual foi contida, eles vivem na miséria e são obrigados a cada temporada, entregar dois jovens por distrito para participar de um reality show onde devem sobreviver aos perigos da natureza, como no falecido global “No Limite”, mas também aos próprios colegas dos demais distritos, visto que, tal qual em “Highlander”, no fim só pode haver um. Assim acompanhamos a saga de Katniss (a alta e linda Jennifer Lawrence de “Um Novo Despertar”) e Peeta (Josh Hutcherson de “Viagem 2 – A Ilha Misteriosa”).

O primeiro ato talvez seja o mais interessante, pois monta a história gradualmente, liberando detalhes da trama e da sociedade a medida em que cresce o suspense em torno do motivo da existência dos tais jogos tão violentos. Na história, há um simbolismo que, se pelo lado filosófico é bastante profundo, pelo lado comercial é um tiro no pé: repare que nos distritos paupérrimos, todos se vestem de forma normal (no que sua condição social deixa), porém na cidade central, sua população se veste como se fossem todos descendentes da banda Restart. Inclusive a carismática Elizabeth Banks de “A Beira do Abismo” está irreconhecível como uma das treinadoras do time do casal de protagonistas. O simbolismo onde o estado supremo contrasta de forma absurda com os párias já foi visto nos clássicos “Brazil – O Filme” ou “1984” com um ótimo resultado artístico. Contudo, desta vez essa nova investida no formato pode decepcionar os mais comerciais.

Voltando à linha narrativa, a produção investe grande parte do tempo, não nos jogos em si, mas na preparação dos personagens. E é aí uma das grandes sacadas: a dicotomia do estado espiritual dos jogadores entre saber que tem grandes chances de morrer (são 24 participantes onde somente um sobrevive), colocando-os num estado depressivo angustiante, ao mesmo tempo em que devem aparentar felicidade em participar, pois quanto melhor o seu marketing pessoal, mais chances de terem patrocinadores que possam ajudá-los com suprimentos para sobrevivência.

Ao contrário da expectativa de muitos, o terceiro ato é aquele que finca a obra no drama de vez. Ao invés de apresentar ação desenfreada, concentra-se em aprofundar as relações entre os participantes – os principais, é claro – e tenta dar a devida importância às mortes, na filosofia de que independente do contexto, um assassinato ainda é um assassinato. Não que isso seja novidade, visto que o polêmico jovem clássico japonês “Batalha Real” mostra o mesmo tema com muito mais violência e fôlego.

O diretor Gary Ross que lá atrás em 2003 fez o filme de cavalos “Seabiscuit – Alma de Herói” também escorrega um pouco ao tentar explicar a dinâmica do jogo e sua própria tecnologia onde se cria cachorros digitais simplesmente com uma troca de pixels e se provoca incêndios com um canhão virtual. O elenco está correto em suas performances, mesmo com alguns papéis escritos de forma exagerada. Por sinal, apresenta um elenco invejável que provavelmente acreditou no potencial artístico e comercial dessa trilogia.

Jogos Vorazes” ainda não disse a que veio, mas também está longe de naufragar. É um bom drama que infelizmente foi vendido como ação. E ainda demora um pouco mais que deveria. Porém tem chances de crescer nas duas próximas partes e pode ser uma boa pedida dos cinemas nessa temporada.

Ficha Técnica

Elenco:
Stanley Tucci
Wes Bentley
Jennifer Lawrence
Willow Shields
Liam Hemsworth
Elizabeth Banks
Paula Malcomson
Josh Hutcherson
Raiko Bowman
Woody Harrelson
Toby Jones
Donald Sutherland

Direção:
Gary Ross

Produção:
Nina Jacobson
Jon Kilik

Fotografia:
Tom Stern

Trilha Sonora:
T-Bone Burnett
James Newton Howard

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