A Juventude (“Youth”)

O diretor Paolo Sorrentino de “Aqui é Meu Lugar” sempre foi um fã confesso do icônico cineasta Federico Fellini. Este seu “Juventude” talvez seja o mais próximo de uma mistura Felliniana com Francesco Rosi, outro diretor italiano de quem Sorrentino se espelha.

Apesar do título, a história fala sobre a velhice. Mais que isso: sobre a visão da velhice em todos os aspectos. O cenário é um resort de luxo nos Alpes Suíços. Michael Caine de “Despedida em Grande Estilo” é Fred, um maestro aposentado que acabara de recusar voltar aos palcos, mesmo a pedidos da Rainha da Inglaterra. Harvey Keitel de “O Irlandês” é Mick, um diretor em fim de carreira tentando finalizar um roteiro para seu derradeiro filme. Eles são amigos e conversam sobre quase tudo, enquanto cada um deles sofre seu drama particular e tem sua visão de mundo que pode ou não ser mudada por novos acontecimentos.

Todo o cenário ao entorno, inclusive em cenas que eles não participam, é uma reimaginação da própria vida. Daí se extraem cenários inspirados em Fellini, sendo o próprio resort um personagem a parte que orbita independente da trama e reflete o lado mecânico e o erotismo contemplativo que a idade avançada apenas vislumbra.

Os conflitos dos jovens, como o do ator Jimmy (Paul Dano de “Okja”) que só é lembrado pelas frivolidades que interpretou, e da filha de Fred, Lena (Rachel Weisz de “A Favorita”), que era casada com o filho de Mick, mas fora traída e trocada por uma cantora pop, também são vistos por focos no futuro (os idosos), além de junto com a história de todos os personagens relevantes, representam fins de ciclos, inclusive do personagem que faz alusão ao jogador argentino Diego Maradona num doloroso fim de carreira.

Há alguns diálogos fascinantes como o de Lena sobre o ressentimento com o pai ou o de Mick sobre a importância das emoções ou até mesmo de Jimmy sdobre a semelhança de suas frustrações com as de Freed.

O desfecho talvez seja a parte mais linda, mais tocante e mais definitiva do filme, o qual representa ao mesmo tempo morte e vida, fim e recomeço e dá à “Juventude” um resultado surpreendente para um drama nada comercial que passa da linha do cult, tornando-se pura poesia visual e narrativa.

Curiosidades:

– Há uma cena em que o “Maradona” fala que é canhoto. Não só na vida real, o jogador é canhoto, mas foi com sua mão esquerda que ele fez o infame gol de mão na Copa de 1986 contra a Inglaterra.
– Depois que viu o filme pronto, Michael Caine escreveu uma carta a Paolo Sorrentino dizendo que ficou tocado com o filme e na volta não parava de chorar no taxi ao lado de sua esposa.
– Michael Caine usava óculos escuros para deixar seu cabelo mais branco.
– A história de um maestro ter recusado o convite da Rainha da Inglaterra por diferenças criativas foi inspirada num fato e aconteceu com o maestro Riccardo Muti.
– Na cena da piscina Michael Caine e Harvey Keitel não sabiam que uma atriz iria aparecer nua e então sua surpresa foi real.

Ficha Técnica

Elenco:
Michael Caine
Harvey Keitel
Rachel Weisz
Paul Dano
Alex Macqueen
Ian Attard
Adam Jackson-Smith
Roly Serrano
Loredana Cannata
Mãdãlina Ghenea

Direção:
Paolo Sorrentino

Produção:
Carlotta Calori
Francesca Cima

Fotografia:
Luca Bigazzi

Trilha Sonora:
David Lang

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