Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (“Midsommar”)

Ari Aster, diretor do sensacional “Hereditário” fez uma espécie de mistura entre seu filme anterior com o clássico “O Homem de Palha” de 1973 e resultou nesse terror onde um grupo de jovens vai passar numa pequena comunidade isolada na Suécia a convite de um amigo, mas mal sabem que seus habitantes guardam rituais macabros que vão trazer risco de vida a todos.

A grande sacada do diretor e que de certa forma subverte as regras do gênero terror é que tudo acontece à luz do dia, visto que naquela parte da Suécia ocorre o fenômeno natural do sol da meia noite, onde durante parte de uma determinada estação, o sol nunca se põe por completo.

Aster entra num campo narrativo perigoso, pois nosso pobres heróis tomam decisões muito questionáveis e muitas vezes que contradizem o bom senso. Por isso ele usou a história de fundo sobre a família da protagonista Dani (Florence Pugh de “Legítimo Rei”) e as motivações dos demais personagens, principalmente o namorado dela Christian (Jack Reynor de “Suprema” que tá parecendo um Seth Rogen mais novinho).

Ainda assim com quase duas horas e meia de filme, daria para desenvolver um pouco melhor os personagens, mas a natureza do diretor de ser mais contemplativo pode parecer moroso em alguns momentos. Mas os poucos efeitos de maquiagem das cenas mais chocantes são imponentes e surpreendentes. Só não são mais porque o diretor teve que cortar meia hora de filme para a censura deixar passar (sim, o filme iria ter três horas e parece que vai haver para streaming e DVD essa versão do diretor).

Mais uma vez a trilha sonora minimalista e a sonoplastia são elementos cruciais para se estabelecer o terror. Se em “Hereditário” era o silêncio que dava o tom aterrorizante, aqui se utiliza das próprias vozes dos atores que em muitos momentos soam destoantes e geram incômodo e agonia bem como o coro dos figurantes habitantes da aldeia que provocam bastante tensão, tendo sido coordenados pelo grupo de capella Haxan Cloak (especializados e músicas antigas e de rituais pagães).

Midsommar” só não foi melhor e mais perturador porque talvez as cenas que foram cortadas em prol da censura seriam ainda mais assustadoras e é isso que nós queríamos, mas continua sendo outro golaço de Ari Aster que prova que não veio para o terror de brincadeira. Agora é aguardar a versão full.

Curiosidades:

– O nome do personagem Christian vem de Cristão o que é uma provocação do roteiro, pelo próprio desfecho frente aos rituais pagães, cuja crença é contra o cristianismo.
– No Brasil, todos os diálogos, inglês e suecos, são legendados. Nos países de língua inglesa o filme é todo sem legenda para dar aos espectadores a mesma sensação de isolamento dos personagens principais, visto que eles também não entendiam o que estava sendo falado pelo povo da comunidade.
– O personagem de Mark tem uma fobia a insetos. O diretor Ari Aster tem a mesma fobia e se inspirou em si para construir esse personagem. Tanto que nas filmagens ele usava duas meias grossas para se precaver de possíveis picadas.
– Esse era pra ter sido o primeiro filme de terror de Ari Aster, pois quando escreveu “Hereditário”, ele começou como um drama familiar apenas.
– A uma cena em que Christian (Jack Reynor) aparece nu e correndo. A cena era pra ter sido filmada com ele de hobby, mas o próprio ator sugeriu a nudez porque nos filmes de terror, sempre são as mulheres que aparecem nuas e vulneráveis aos psicopatas e dessa vez ele queria ser justo para poder provocar a mesma sensação de vulnerabilidade.
– Nessa versão do filme, Dani e Christian nunca se beijam na boca. Na versão estendida há uma cena de beijo.
– Em vários momentos do filme, há pinturas que projetam exatamente o que vai acontecer no futuro.
– O Homem de Palha, uma das inspirações de Midsommar teve uma refilmagem em 2006 com Nicolas Cage chamada O Sacrifício.
– O número 9 é o mais importante da narrativa. Isso deriva da lenda de Odin, pai de todos os deuses nórdicos, o qual foi pendurado de cabeça pra baixo por 9 dias para espalhar o conhecimento no mundo, criando inclusive a linguagem das runas. Veja como isso se reflete no filme:
— O ritual dura 9 dias.
— O ritual tem a participação de 9 pessoas como elementos principais (dito no último ato)
— O ritual é celebrado a cada 90 anos (9×10 = 90).
— As faixas de idade representadas para crescimento na comunidade são: até 18 anos, a infância (9×2 = 18); jovem até 36 (9×4 = 36); maturidade até os 54 (9×6 = 54) e velhice até os 72 (9×8 = 72).
— Midsommar tem 9 letras.
— Na cena inicial onde aparece a secretária eletrônica, a contagem de recados vai até 9.

Ficha Técnica

Elenco:
Florence Pugh
Jack Reynor
Vilhelm Blomgren
William Jackson Harper
Will Poulter
Ellora Torchia
Archie Madekwe
Henrik Norlén
Gunnel Fred
Isabelle Grill
Agnes Westerlund Rase
Julia Ragnarsson
Mats Blomgren
Lars Väringer
Anna Åström

Direção:
Ari Aster

Produção:
Patrik Andersson
Lars Knudsen
Viktória Petrányi

Fotografia:
Pawel Pogorzelski

Trilha Sonora:
The Haxan Cloak

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