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Recentemente escrevi na crítica de “Uma Família Muito Nobre” que o cinema popular mexicano, dentro de uma lógica meio caótica, consegue como por mágica que comédia e drama andem lado a lado sem prejudicar a essência da trama. Essa qualidade é vista com muito mais nitidez num dos filmes mais emocionantes e engraçados dos últimos tempos, que inclusive passou em seletos cinemas no Brasil.
Eugenio Derbez (“Milagres do Paraíso”) é ator, produtor, diretor e um dos artistas com as maiores credenciais do setor no México, especializando-se em comédia e aqui ele exerce todos esses papéis, protagonizando como Valentin, um solteirão pegador, cuja vida vai de vento em popa, até que uma de suas inúmeras amantes, Julie (Jessica Lindsey em primeiro papel relevante), aparece com uma bebê dizendo que é dele e daí some do mapa. Valentin tem que se virar para cria-la e acaba desenvolvendo todo um mundo de sonhos em torno da filha Maggie (Loreto Peralta em seu papel de estréia).
O roteiro escrito por ele é genial sob muitos aspectos: a relação que ele tem entre o receio de seu pai e o de ser pai é muito bem construído, mas jamais é definitivo para a criação de Maggie; a própria sequência de crescimento de Maggie sendo criada por Valentin não só é muito bem elaborada, como bem executada, onde a legenda da idade da menina interage com o cenário e os atores.
Chegamos então a atriz mirim Loreto Peralta: ela é apaixonante, bilíngue surpreendendo na pronuncia do inglês e espanhol perfeitamente (sim, o filme é falado em duas línguas), dona de um carisma ímpar que não só conquista de pronto o espectador, como também ofusca qualquer deslize da produção. E claro que o filme tem seus problemas, inclusive também sofre (ou às vezes diverte) com o jeitinho pastelão mexicano de ser, principalmente nas gags físicas de Derbez como dublê de cinema, profissão que arranja para o sustento da filha.
Só que ninguém poderia antever a reviravolta que ocorre no último ato e que vai fazer o público se debulhar em lágrimas de tal forma a marcar os mais sensíveis por muito tempo. É brilhante a maneira que o roteirista concebeu um elo entre avô, pai e filha desde o início do primeiro ato, como ele engana a platéia desviando a atenção da própria surpresa e daí a lança como um soco no estômago.
“Não Aceitamos Devoluções” só pode ser descrito como Irresistível e um prodígio que une o pastelão com o drama e tão cheio de detalhes geniais que merece ser assistido mais de uma vez. Ou várias. Ou sempre.
Curiosidades:
– No roteiro original, era para ser um menino, porém quando Loreto Peralta apareceu, encantou toda a produção e Eugenio Derbez reescreveu todo o roteiro para caber a personagem como feminina.
– A parceira de Julie, que aparece a partir do meio do filme, é a esposa de Derbez na vida real.
Ficha Técnica
Elenco:
Eugenio Derbez
Loreto Peralta
Jessica Lindsey
Karla Souza
Daniel Raymont
Jeannine Derbez
Direção:
Eugenio Derbez
Produção:
Eugenio Derbez
Fotografia:
Martín Boege
Andrés León Becker
Trilha Sonora:
Carlo Siliotto
