Nosso Lar (Brasil, 2010) ***NOS CINEMAS***

O filme brasileiro baseado na obra homônima de Chico Xavier é um marco silencioso no cinema nacional. Silencioso porque apesar de provavelmente bem recebido pelo público (as sessões lotadas podem dizer isso) e ter batido o recorde de estréias em número de salas (453), está longe de ter a reverberação Global (sim pela Vênus Platinada), tal qual o “Chico Xavier” de Daniel Filho teve. Ainda sim é um marco. Não por ser uma produção espetacular digna de um Oscar, o que não é. Mas sim por ser um dos poucos exemplares legitimamente brasileiros a tratar de uma temática universal de forma tecnicamente séria e fugindo chavões patrióticos chatos que tanto acometem nossas obras cinematográficas.

Roberto Pietro é André Luiz, homem que morre e vai parar numa dimensão sombria onde vivem seres atormentados. Sentindo sede e fome mesmo sabendo estar morto, fica próximo do desespero, no que é resgatado por “homens de luz” que o levam a uma cidade conhecida por Nosso Lar. Lá ele vai aprender valores que irão mudar todas suas convicções sobre a vida e a morte.

Como adaptação, o diretor Wagner de Assis (“A Cartomante“) se esforçou para abarcar a maioria das nuances descritas no livro (e são muitas), com um resultado relativamente eficaz, principalmente para os leigos. A narrativa é bastante palatável, ao mesmo tempo em que tem algumas sofisticadas transições entre o passado e o presente.

Como filosofia, ele até pode funcionar como uma cartilha espírita, mesmo que com seus rápidos 102 minutos, ainda careça de respostas mais completas. Coisas que só uma extensa bibliografia para os iniciados pode dar. Mas é preferível dizer que ele trate de uma realidade da qual tantos outros filmes de tantos gêneros diferentes, mas que exploram o mesmo tema tratam. A diferença (e será grande e positiva para alguns) é que por ser de uma doutrina, há toda uma expectativa envolvida.

E como filme, vemos técnicas praticamente nunca antes usadas. Temos efeitos especiais digitais que revolucionaram desde já o cinema nacional, tal qual a fotografia e a narrativa tupiniquins foram revolucionadas em “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite“. Cabe dizer que uma empresa americana foi contratada para fazer os efeitos, já que nosso país parece não ter a expertise necessária ainda se prendendo apenas ao padrão Globo de qualidade. Inclusive a própria trilha sonora também foi feita por um estrangeiro, Philip Glass, parceiro de Woody Allen em “O Sonho de Cassandra“.

Não se pode dizer o mesmo da atuação novelesca do elenco, típico de novela de época das seis e dos enquadramentos ainda tradicionais do diretor, que só foge à regra com as brilhantes panorâmicas de cara com o cenário digital.

Nosso Lar” aparenta ser uma tentativa com êxito de popularizar o espiritismo em sua melhor forma: não como doutrina, mas como modo de vida. Mesmo que claramente se beneficie do sucesso e do mote de “Chico Xavier” (o qual tem até uma bela citação no final), é inegável seu mérito narrativo e, principalmente técnico, elevando o cinema nacional mais uma vez a um outro patamar. Só faz bem.

[rating:3.5]


Ficha Técnica

Elenco:
Renato Prieto
Fernando Alves Pinto
Othon Bastos
Paulo Goulart
Rosanne Mulholland
Rodrigo dos Santos
Werner Schünemann
Clemente Viscaíno
Lu Grimaldi
Selma Egrei
Nicola Siri
Helena Varvaki
César Cardadeiro
Lisa Favero
Amelia Bittencourt
Ana Beatriz Correa
Aracy Cardoso
Inez Viana
Chica Xavier
Alexandre Wacker
Carlos Tenório
Angela Britto
Luciano Cazz
Ana Rosa

Direção:
Wagner de Assis

Produção:
Iafa Britz

Fotografia:
Ueli Steiger

Trilha Sonora:
Phillip Glass

ELENCO

DIREÇÃO

Avaliações dos usuários

Não há avaliações ainda. Seja o primeiro a escrever uma.

Avalie o filme

Share on whatsapp
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on email
Share on telegram