O Doador de Memórias (“The Giver”)

Do que uma sociedade precisa para viver sem guerras e destruição? A resposta do livro de Lois Lowry lançado há 21 anos é tão filosófica quanto simples: eliminar tudo o que faz o ser humano ser… humano. Primeiramente eliminar as diferenças para que não haja nenhum tipo de racismo, inveja ou sentimento de injustiça e depois, através de remédios, entorpecer as pessoas para que qualquer emoção ruim ou boa (porque sempre é bom se precaver) não consiga aflorar. Se o mundo começasse do zero assim, estaria tudo bem. Mas como executar esse plano quando todo mundo sabe e conhece todas essas sensações? A resposta aparentemente nem é simples e nem é fácil: eliminar a memória de todos eles, de tal forma que com o passar das gerações, ninguém mais se lembre o que são as diferenças, o ódio, as guerras, mas também o amor, a paixão, a felicidade plena.

O protagonista Jonas (Brenton Thwaites de “O Espelho”) começa a narração do filme, fazendo a pergunta que em nenhum momento é respondida: será que é correto a humanidade pagar esse preço para formar uma sociedade equilibrada? E ele é o escolhido da sociedade para receber as memórias do único homem que as tem, o qual tem a função de conselheiro e o doador de memórias (Jeff Bridges de “Agentes do Além”). Quando Jonas começa a receber as memórias, ele começa a perceber que as regras dessa sociedade alternativa podem estar erradas e passa buscar um significado maior para a vida, o que pode resultar em sua própria destruição.

Esta obra dirigida por Phillip Noyce (“Salt”) se parece muito com outra, dirigida por M. Night Shyamalan chamada “A Vila” feita em 2004 sobre uma outra sociedade que também entende que o isolamento traria o equilíbrio. Inclusive tem os mesmos defeitos: para atrair um público maior, principalmente os jovens e adolescentes que curtem essa linha de “Jogos Vorazes” e “Divergente“, criou uma campanha com a conotação que “O Doador de Memórias” é um filme de ação e suspense. Mas não é. Só que, pressionado para que a produção convencesse seu público alvo, o diretor colocou elementos de ação que parecem deslocados da questão filosófica que o próprio filme traz.

É por isso que o espectador olha cenas brilhantes como Jonas pergunta a seu núcleo familiar se eles o ama ou até mesmo a ótima sacada das cores segundo as perspectivas dos personagens na mesma obra que contém outras decepcionantes como uma apática perseguição em seu último ato e o próprio anticlímax a se revelar em seu desfecho.

Não satisfeito, o roteiro ainda insinua clichês infanto-juvenis advindos de séries tais quais “Crepúsculo” como o mais que batido triângulo amoroso envolvendo o elenco jovem. A ficção ainda falha em esclarecer certos elementos como a tal “cerca da memória” e como o doador de memórias consegue prever o futuro (não posso dar mais detalhes sem estragar a surpresa).

O Doador de Memórias” tem um conteúdo fantástico, uma filosofia digna de longas horas discussão, mas uma execução que não condiz com a inteligência da trama, pois tenta dar um tom comercial e rasteiro não traduzindo sua própria profundidade.

Ficha Técnica

Elenco:
Jeff Bridges
Meryl Streep
Brenton Thwaites
Alexander Skarsgård
Katie Holmes
Odeya Rush
Cameron Monaghan
Taylor Swift
Emma Tremblay

Direção:
Phillip Noyce

Produção:
Jeff Bridges
Neil Koenigsberg
Nikki Silver

Fotografia:
Ross Emery

Trilha Sonora:
Marco Beltrami

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