O Filme da Minha Vida

Selton Mello de “O Palhaço” vem provando ser um dos diretores mais consistentes dessa safra do cinema brasileiro. Mesmo ele não largando o velho formato de se fazer filmes no Brasil, procura ir um pouco mais além, tanto em suas composições, como na estética em si.

Aqui temos Tony (o novato Johnny Massaro) que volta do magistério para ser professor em sua pequena cidadezinha e vê com imensa tristeza seu pai, o francês Nicolas (Vincent Cassel de “Jason Bourne” falando um português invejável – aliás ele e sua esposa belíssima Monica Bellucci moram no Rio de Janeiro) indo embora no mesmo trem sem dar nenhuma explicação. Dois anos se passam e ele ainda se debate com a ausência absoluta do pai, tendo apenas o bronco amigo Paco (o próprio Selton Mello) e a sua provável namoradinha Luna (Bruna Linzmeyer e seus olhos apaixonantes). Pequenos eventos – dentre eles a chegada da irmã de Luna, Petra (Bia Arantes de “Malhação” e “Carinha de Anjo”, que beleza é essa?) – irão mudar o curso da história de Tony.

A fotografia do mestre Walter Carvalho (“O Céu de Suely”) dá à produção o perfeito lirismo que o diretor procura e insere de tantas formas, seja com uma diversa trilha sonora (mas que não foge dos lugares comuns) ou em enquadramentos inventivos, como por exemplo a cena em que o protagonista abre uma janela ao amanhecer onde se faz um perfeito uso da luz; ou como ele usa a fumaça do cigarro para preencher alguns vazios também usando a luz a seu favor (tudo bem que os personagens fumam tanto que o câncer já deve estar batendo na porta). Lógico que as vezes a gente encontra um exagero aqui e ai, como na cena de um soco onde a câmera foca a mão do personagem num ângulo impossível para o ato em si, mas é perdoável.

Já a história é singela, tem algumas ótimas reviravoltas no final, mas são tantos elementos dramáticos que permeia a narrativa que a linha principal perde um pouco de sua força. Parece ser proposital que o contexto geral da vida de Tony (a descoberta do amor e da sexualidade, sua relação com a mãe e com seus alunos) possa rivalizar com a lacuna deixada por seu pai e o mistério de onde ele se encontra. Entretanto fica claro que essa dispersão não joga a favor, visto que nenhum desses braços é tão desenvolvido a ponto ter um peso maior.

Ainda assim, no terceiro ato, Mello põe panos quentes nas oportunidades de clímax apenas para que a última cena tivesse um destaque maior. De certa forma conseguiu – é a mais emocionante – mesmo deixando boa parte do último ato num certo topor para o espectador.

“O Filme da Minha Vida” pega os melhores clichês do cinema brasileiro numa embalagem de muita qualidade, com ótima condução e uma história que carece de fôlego, mas com muito carisma.

Curiosidade:

– O autor Antonio Skármeta, cujo livro inspirou o filme, faz uma ponta como um espanhol que conta uma historieta engraçadinha na cena em um bordel.

Ficha Técnica

Elenco:
Vincent Cassel
Selton Mello
Bruna Linzmeyer
Johnny Massaro
Vitória Strada
Bia Arantes
Antonio Skármeta
Ondina Clais
Martha Nowill
Rolando Boldrin
Miwa Yanagizawa
João Prates
Erika Januza

Direção:
Selton Mello

Produção:
Vânia Catani

Fotografia:
Walter Carvalho

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