Taí uma escolha óbvia para concorrer ao Oscar, já que fala de história americana, superação e diversidade racial. Um prato cheio. Só faltou fazer bem feito.
O filme retrata um tercho da vida do pastor e um dos principais ativistas afro-americanos Martin Luther King que passou a vida lutando pela igualdade de direitos entre brancos e negros. O trecho em questão é a controversa marcha na cidade de Selma, Alabama, um dos Estados mais segregacionistas dos EUA, com o objetivo de monopolizar a opinião pública a fim de trazer o voto igualitário para o Estado.
Vivido de forma um tanto genérica por David Oyelowo (“Interestelar”), este King de “Selma”, apesar de discursos inflamados (inventados, pois os estúdios não detém os direitos dos verdadeiros), parece a maioria das vezes distante do espectador, com poucas cenas de impacto artístico como a que é questionado pela esposa sobre sua fidelidade. Assim, o ator acaba deixando seus coadjuvantes se destacarem como o ótimo Tim Roth (“Broken”) interpretando o odioso governador do Alabama.
Apesar de começar de forma bombástica (literalmente), a produção aos poucos vai caindo numa burocracia morosa, interrompida por alguns inspirados momentos emocionantes como as manifestações racistas ou a própria marcha de Selma. Só que os roteiristas quiseram tanto enriquecer o filme de fatos que estica pouco mais de duas horas com cenas desnecessárias, por exemplo, o encontro da esposa de King com o famoso ativista Malcolm X, sendo que minutos depois a cena é sumariamente descartada como se nem tivesse acontecido.
É claro que algumas sacadas são dignas de aplausos como a maneira que o diretor encontrou para pontuar a onipresente CIA rastreando os passos do protagonista e inclusive conta com a presenta de J. Edgar Hoover, diretor da CIA aqui vivido por Dylan Baker (“Tudo por um Furo 2”) e que outrora já fora protagonista na pele de Leonardo di Caprio em “J.Edgar”.
“Selma” conta muito mais com o apelo da história do que uma execução eficiente e chega a ser uma pena que apenas esse apelo e muito lobby fez um filme mediano estar entre os dez indicados ao Oscar. Vale pela história, mas peca na condução.
Ficha Técnica
Elenco:
David Oyelowo
Carmen Ejogo
Oprah Winfrey
Tom Wilkinson
Giovanni Ribisi
Ruben Santiago-Hudson
Colman Domingo
Omar J. Dorsey
Tessa Thompson
Common
Lorraine Toussaint
Wendell Pierce
Stan Houston
Tim Roth
Cuba Gooding Jr.
Alessandro Nivola
Michael Papajohn
Direção:
Ava DuVernay
Produção:
Christian Colson
Jeremy Kleiner
Oprah Winfrey
Fotografia:
Bradford Young
