Sicario: Terra de Ninguém (“Sicario”)

O diretor Denis Villeneuve tem o peculiar dom de fazer filmes excelentes, mas longe da dinâmica que Hollywood estabelece e sempre com narrativas densas e complexas, vide “Os Suspeitos” e “O Homem Duplicado”. Aqui num gênero bem diferente, ação, ele consegue orquestrar sua narrativa de maneira quase poética.

A agente do FBI Kate Macer (Emily Blunt de “Caminhos da Floresta”) é designada para fazer parte de uma unidade secreta de narcóticos chefiada pelo sarcástico Matt Graver (Josh Brolin de “Evereste”) para desmantelar um cartel mexicano. Seu novo colega é o misterioso Alejandro (Benicio Del Toro de “Escobar: Paraíso Perdido”) e é nesse momento que ela começa a suspeitar que a missão envolve muito mais do que ela pensa.

Com a narrativa pesadíssima do início ao fim, Villeneuve se vale do seu talento áudio visual para imprimir cenas que, mesmo contemplativas causam uma tensão inimaginável, como suas tomadas aéreas que filmam o solo a 90 graus, ostentando a esmagadora grandeza da cidade frente à inaptidão das pessoas de lidarem com a violência que a povoa. Isso juntamente com a trilha sufocante de Jóhann Jóhannsson (indicado ao Oscar por “A Teoria de Tudo”), provoca uma atmosfera insuportável para os personagens, principalmente Kate que na verdade é os olhos do espectador.

Enquanto Blunt e Brolin desempenham seus papéis com a intensidade de sempre, é Benicio Del Toro com seu silêncio causticante que transforma Alejandro, de longe, no melhor personagem da trama, num perigo eminente sem deixar saber de que lado está.

O tema explorado em “Sicario” tem uma dimensão reflexiva imensa: o do mal necessário; o de que os fins justificam os meios; de que é melhor deixar no mundo uma maldade que se pode controlar do que ficar com um vácuo de poder para que tudo se torne caos (e não coincidente, esse é exatamente o tema por trás das ocupações e intervenções americanas no mundo, do Iraque, Afeganistão, até a tão atuam Síria). E seu desfecho deixa justamente esse tema no ar para que o espectador tire suas próprias conclusões.

“Sicario” é como o próprio personagem de Del Toro, Alejandro: seu valor está muito mais pelo que mostra do que pelo que diz. Recomendadíssimo.

Curiosidade: Na cena dos carros cruzando o México, a agustia e suor em Emily Blunt era real. É que ela teve uma forte diarréia no dia anterior e ainda estava em tratamento. Ou seja: muito cuidado com o que se come no México.

Ficha Técnica

Elenco:
Emily Blunt
Benicio Del Toro
Josh Brolin
Victor Garber
Jon Bernthal
Daniel Kaluuya
Jeffrey Donovan
Raoul Trujillo
Julio Cedillo
Hank Rogerson
Bernardo P. Saracino
Maximiliano Hernández
Kevin Wiggins
Edgar Arreola
Kim Larrichio

Direção:
Denis Villeneuve

Produção:
Basil Iwanyk
Thad Luckinbill
Trent Luckinbill
Edward McDonnell
Molly Smith

Fotografia:
Roger Deakins

Trilha Sonora:
Jóhann Jóhannsson

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