Terra Selvagem (“Wind River”)

São 110 minutos que passam voando de tão bom que o filme é. O premiadíssimo roteirista Taylor Sheridan (ele escreveu “A Qualquer Custo”) volta à direção num suspense dramático brilhante que une, quem diria, Gavião Arqueiro e Feiticeira Escarlate, ou melhor, Jeremy Renner e Elizabeth Olsen de “Vingadores”.

Numa cidadezinha que também é uma reserva indígena, o policial Cory (Renner) descobre o corpo de uma jovem indígena morta na neve e para desvendar o caso, chama o apoio da agenda do FBI Jane (Olsen), pois – e isso é verdade – um crime contra um índio em certos Estados dos EUA só pode ser resolvido na presença de um agente federal. O arco dramático é que a jovem morta era a melhor amiga da filha de Cory que há anos também morreu da mesma forma num caso nunca resolvido.

O roteiro e direção conseguem discutir três assuntos que são totalmente relevantes separados e agregam uma força inegável na narrativa quando juntos: primeiro a busca da resolução do filme que, por si só, é uma das forças propulsoras dos eventos que se seguem; segundo o melancólico arco dramático da perda de Cory e como ele usa o crime como forma de uma vingança virtual, mas ao mesmo tempo abraça a perda e consola o pai da jovem; e finalmente, uma pesada crítica ao sistema criminal americano, pois se um crime contra um nativo não pode ser resolvido e julgado sem que haja um agente ou tribunal federal, muitos assassinatos ficam sem resposta ou até mesmo que haja uma resposta, o criminoso sai impune na falta desse sistema federal.

Os três temas são postos de maneira tão simples e acessível que a absorção pelo espectador, não só e imediata, mas cria uma afinidade universal, mesmo que estejamos falando de um público brasileiro vendo um filme que se passa numa cidade totalmente isolada pela neve.

A personagem de Olsen também tem extrema importância, pois ela representa a contra cultura, a pessoa fora do ninho que não entende como pode ajudar e, apesar de parecer desnecessária, ela vira uma espécie de alter ego da crítica, pois ela sente o quanto o sistema é falho.

Não obstante há tantos olhares diferentes que a obra pode ter e sua riqueza crítico-narrativa, Sheridan guarda um terceiro ato brutal que não deixa o espectador sair da cadeira colocando o impacto na hora certa e um clímax que mistura emoção e vingança de uma forma quase minimalista e pé no chão, o que torna o desfecho deliciosamente cru.

Terra Selvagem” é um suspense obrigatório, seja como drama, crítica do sistema e até mesmo seus aspectos técnicos que produzem uma daquelas experiências multissensoriais que se faz refletir e marca por um bom tempo.

Curiosidades:

– Durante as filmagens o diretor foi visitado por uma tribo próxima da reserva indígena onde estavam filmando, a qual revelou para ele que naquele exato momento havia 12 assassinatos não resolvidos numa reserva de 6 mil índios. Grande parte deles por causa do sistema criminal americano.
– A história é baseada numa combinação de fatos reais, tal qual versa o texto antes dos créditos finais.
– Elizabeth Olsen teve cegueira temporária provocada pela neve, pois se descuidou e tirou os óculos numa manhã de filmagem.
– Jon Bernthal (“Eu, Você e a Garota que Vai Morrer” e atualmente mais conhecido por ser o Justiceiro na série da Marvel / Netflix) faz uma participação numa cena de briga e perdeu 4 unhas do pé por conta dessa cena.

Ficha Técnica

Elenco:
Jeremy Renner
Elizabeth Olsen
Graham Greene
Jon Bernthal
Kelsey Asbille
Julia Jones
Teo Briones
Apesanahkwat
Tantoo Cardinal
Eric Lange
Gil Birmingham
Althea Sam
Tokala Black Elk
Martin Sensmeier
Tyler Laracca
Blake Robbins
Norman Lehnert
Ian Roylance

Direção:
Taylor Sheridan

Produção:
Elizabeth A. Bell
Peter Berg
Matthew George
Basil Iwanyk
Wayne L. Rogers

Fotografia:
Ben Richardson

Trilha Sonora:
Nick Cave
Warren Ellis

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