Trama Fantasma (“Phantom Thread”)

Se formos parar para analisar a obra do brilhante cineasta Paul Thomas Anderson, verificaremos que todos os seus filmes tratam basicamente da relação entre pessoas com distúrbios morais ou psicológicos em seus vários contextos. Basta ver no sensacional “Sangue Negro” e nos ótimos “Vício Inerente” ou “O Mestre”.

Não é diferente nessa nova parceria com o não menos brilhante ator Daniel Day-Lewis: ele é Reynolds Woodcock, conceituadíssimo estilista que de tão obcecado com a sua arte, desenvolveu uma série de transtornos obsessivos compulsivos e uma falta de empatia tamanha ao ponto de ser implacável e tratar as mulheres de sua vida como verdadeiros objetos, mas ao mesmo tempo tem uma devoção imensurável pela falecida mãe (o que dá um bom contexto para sua psiquê). Tudo começa a mudar quando conhece Alma (Vicky Krieps de “Amor e Revolução”), uma garçonete que ele “adota” como sua mais nova musa, mas acaba tratando-a igual as outras. O que ele não contava é que a devoção de Alma e seu ressentimento pudessem-na levar a tomar atitudes extremas.

Pelo menos até a metade da produção, ela é de Lewis: dá gosto ver sua performance com seus trejeitos e maneirismos friamente calculados e ao mesmo tempo tão naturais e orgânicos como se ele vestisse o personagem numa medida perfeita (sem trocadilhos). Sem dúvida, sua indicação ao Oscar e a vários prêmios foi mais que justa.

Mas a reviravolta da relação logo após também dá um ritmo inesperado que é o diferencial do roteiro, juntamente com a tensa e intensa trilha sonora de Jonny Greenwood, parceiro do diretor em vários filmes, que praticamente dá o tom da narrativa, a qual tem relevância em grande parte do filme, principalmente no desfecho.

E se “Trama Fantasma” não é ainda melhor, é pela pequena falta de coesão justo no final, onde os personagens fogem da lógica para dar um melhor efeito dramático. O efeito é conseguido, mas sob o preço de uma distorção da personalidade e dinâmica pré-estabelecidas.

Ainda assim “Trama Fantasma” é a mais pura arte e estudo de personagem misturado com mais uma aula de atuação de Daniel Day-Lewis e casa bem com cinéfilos que apreciam algo fora do circuito comercial.

Curiosidades:

– Segundo Daniel Day-Lewis atestou em larga escala, esse é seu último filme antes de se aposentar.
– O nome do protagonista, Reynolds Woodcock veio de uma piada que Lewis contou para o diretor e este se acabou de rir.
– Paul Thomas Anderson foi seu próprio diretor de fotografia, mas por falta de técnica, pedia constantemente ajuda para os assistentes de câmera.
– Durante os 130 minutos de filme a uma partitura do compositor Jonny Greenwood que demora 90 minutos.
– Muitas das costureiras no filme são realmente profissionais da moda na vida real (a maioria já aposentada).

Ficha Técnica

Elenco:
Daniel Day-Lewis
Vicky Krieps
Lesley Manville
Julie Vollono
Sue Clark
Joan Brown
Harriet Leitch
Dinah Nicholson
Julie Duck
Maryanne Frost
Elli Banks
Amy Cunningham
Amber Brabant

Direção:
Paul Thomas Anderson

Produção:
Paul Thomas Anderson
Megan Ellison
Daniel Lupi
JoAnne Sellar

Fotografia:
Paul Thomas Anderson

Trilha Sonora:
Jonny Greenwood

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