Indiana Jones e a Relíquia do Destino (“Indiana Jones and the Dial of Destiny”)

Desde Michael Douglas no oitentista “Tudo por uma Esmeralda”, seguido de “A Jóia do Nilo”, até Nicolas Cage em seu “A Lenda do Tesouro Perdido”, e – porque não dizer – Tom Hanks com o seu professor Robert Langdon na franquia de Dan Brown iniciada por “O Código da Vinci”, nenhum deles fez frente com o professor arqueólogo Henry Jones, conhecido mundo a fora como Indiana Jones, interpretado por Harrison Ford, já na casa dos seus 80 anos.

Seguindo a tendência de Hollywood, Ford, como muitos outros artistas que estão envelhecendo, vêm revisitando seus personagens como Rick Deckard em “Blade Runner 2049” e, claro, o inigualável Han Solo na mais recente trilogia de “Star Wars” que descambou para um fracasso de crítica principalmente na última parte.

Não com essas palavras, mas há alguns momentos em que o já cansado professor Jones infere que o tempo não é bom com ninguém. Também não foi bom com o filme que, apesar de ótimo e uma despedida mais que digna para seu protagonista amargou uma bilheteria pior do que “Flash” no fim de semana de estréia. Isso falando na categoria de Blockbusters.

Por incrível que pareça, um fator que é uma das grandes qualidades da franquia acabou sendo um problema comercial grande nesse sentido. Indiana Jones é um personagem icônico. Mas icônico para quem?

Temos que lembrar que a era de ouro da franquia foi entre os longínquos anos de 1981 e 1989 e, ao contrário de “Star Wars” que constantemente foi alimentada por filmes, games e séries, a franquia “Indiana Jones” teve uma série malfadada “O Jovem Indiana Jones” no início da década de 90 e cancelada logo na primeira temporada e somente em 2008, tivemos a oportunidade de um novo filme, “O Reino da Caveira de Cristal” que para a surpresa de todos, foi o pior da série.

Dito isso, esse é o problema de ser icônico: o “ícone” só abraça muita gente quando é constantemente alimentado, justamente porque grande parte da venda do “icônico” é seu passado e os easter eggs que fazem dele um fan service. Só que esse passado é muito distante e não foi renovado com a devida frequência. Portanto é importante separar a qualidade da produção, do seu desempenho comercial.

Após uma eletrizante abertura com talvez o melhor uso da Inteligência Artificial para rejuvenescimento no cinema, onde o Indiana Jones com carinha de jovem, resgata dos nazistas um estranho artefato, saltamos 30 anos no tempo para que, numa rima de despedida, Indiana Jones se encontre em pleno último dia de trabalho antes da aposentadoria. É quando chega sua afilhada Helena (Phoebe Waller-Bridge de “Adeus, Christopher Robin”) querendo a peça de volta, mas que também é cobiçada pelo vilão neonazista Dr. Voller, interpretado pelo excelente ator, as que vive fazendo papel de vilão, Mads Mikkelsen, o também vilão da franquia “Animais Fantásticos”.

O roteiro muito bem escrito é cheio dos tais easter eggs com o bônus de serem tão discretos que somente os amantes da série vão entender, como por exemplo, a cena em que Indy toma um soco para ser salvo ou aquela que vemos no trailer onde ele confronta várias pessoas com seu chicote, a qual é uma variação de outra cena que teve várias versões desde “Os Caçadores da Arca Perdida”.

Uma das vantagens é ter o diretor James Mangold no comando, pois soube equilibrar deliciosas sequencias de ação absurda com os dramas pessoais do personagem, além de homenagear toda franquia. Diga-se de passagem, Mangold pode ter seus defeitos, mas é um especialista em desfechos. Taí o sensacional “Logan” que não nos deixa mentir.

Até mesmo as pequenas falhas de roteiro são bem escondidas, como a mudança na postura de Helena a partir da metade do filme ou até mesmo o terceiro ato que tem uma relação de causa e consequência que às vezes pode não ser tão coeso assim (não posso dar mais spoilers). Fato é que a única falha estrutural reside no personagem do Dr. Voller, onde o roteiro não soube explicar direito o seu destino entre o primeiro ato em 1939 e o segundo ato em 1959.

Finalmente, para quem gosta da já imortal trilha sonora do herói, John Williams e sua genialidade transformam o filme numa experiência audiovisual fascinante.

Indiana Jones e a Relíquia do Destino” dá tudo aquilo que os fãs pedem, além de ser uma ótima aventura e inteligente até mesmo em seus absurdos. Pena que o público mais jovem deve passar batido nessa. Deveria ter tido pelo menos um esforço da produtora para passar no cinema e em streaming todas as outras partes antes para familiarizar a nova geração.

Ficha Técnica:

Elenco:
Harrison Ford
Phoebe Waller-Bridge
Antonio Banderas
Toby Jones
Boyd Holbrook
Mads Mikkelsen
Karen Allen
John Rhys-Davies
Shaunette Renée Wilson
Thomas Kretschmann
Olivier Richters
Ethann Isidore
Martin McDougall
Alaa Safi
Francis Chapman
Nasser Memarzia

Direção:
James Mangold

História e Roteiro:
Jez Butterworth
John-Henry Butterworth
David Koepp
James Mangold

Produção:
Simon Emanuel
Kathleen Kennedy
Frank Marshall

Fotografia:
Phedon Papamichael

Trilha Sonora:
John Williams

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