A Invenção de Hugo Cabret (“Hugo”)

O mestre Martin Scorsese de “Ilha do Medo” sempre mereceu respeito. E agora mais ainda, pois enfrentou dois novos desafios: o de fazer um filme para a família e de fazer em 3D. Duas missões cumpridas com êxito.

Asa Butterfield que já tem no currículo o sensacional “O Menino do Pijama Listrado” é Hugo, filho de um relojoeiro que após sua morte num incêndio foi morar com o tio bêbado na estação de trem de Paris. Depois que o tio o abandonou, ele fica sozinho consertando dando corda nos relógios da estação e roubando comida e peças para tentar consertar um robô achado pelo pai num museu. E é esse robô que vai levá-lo a uma grande aventura.

Há duas maneiras de se enxergar essa nova obra de Scorsese: a primeira é como uma Sessão da Tarde em boa forma, onde vemos Hugo em suas peripécias e sendo perseguido pelo engraçadinho agente ferroviário interpretado pelo “Brüno” Sacha Baron Cohen. De ponto negativo, o espectador é (meio que) obrigado a ver as relações entre o demais coadjuvantes dentro da estação que, no fim, não traz nenhum valor para narrativa além de contribuir para as mais de duas horas de projeção.

O outro ponto de vista – e que não é muita gente que vai ver dessa forma – é a de uma deliciosa homenagem ao cinema, e às artes em geral, principalmente sobre o valor que deve ser dado aos grandes clássicos. Ponto este que deve ter influenciado, e muito, nas suas onze indicações ao Oscar. A vida de Georges Méliès, o grande cineasta dito o inventor do espetáculo no cinema e dos efeitos especiais, é passada a limpo, muito bem interpretada por Ben Kingsley (“O Príncipe da Pérsia”), numa mistura de realidade e ficção. O diretor investe um tempo considerável enriquecendo a experiência com várias seqüências dos filmes originais de Méliès, entre outros clássicos, de Charles Chaplin a Buster Keaton e ainda com várias referências aos próprios que permeiam toda a projeção. Aqui o personagem é a peça chave que relaciona sua vida com o robô adquirido pelo pai de Hugo.

Tecnicamente o filme é perfeito. E provavelmente deve ter sido o melhor uso da tecnologia 3D desde “Avatar”. A seqüência inicial onde Hugo corre por dentro das paredes da estação para ajustar todos os relógios, sendo acompanhado por uma câmera em uma única tomada (por conta dos efeitos especiais, é claro) beira a genialidade. A reconstituição da Paris pós Primeira Guerra Mundial é primorosa, sem bem que fica óbvio que se deve a uma cuidadosa reconstrução pixel a pixel. Destaque para trilha e fotografia que já saem indicadas ao Oscar.

O que talvez “A Invenção de Hugo Cabret” precisava era cortar um pouco da gordura com as desnecessárias cenas dos personagens secundários, focando-se mais na trama principal, resultando num filme mais enxuto. Contudo, é inegável estarmos diante de mais uma pérola do tão cultuado cineasta que se vai ser bom pra quem gosta de ir ao cinema, será melhor ainda pra quem gosta de cinema.

Ficha Técnica

Elenco:
Ben Kingsley
Sacha Baron Cohen
Asa Butterfield
Chloë Grace Moretz
Ray Winstone
Emily Mortimer
Christopher Lee
Helen McCrory
Michael Stuhlbarg
Frances de la Tour
Richard Griffiths
Jude Law
Kevin Eldon
Gulliver McGrath

Direção:
Martin Scorsese

Produção:
Johnny Depp
Tim Headington
Graham King
Martin Scorsese

Fotografia:
Robert Richardson

Trilha Sonora:
Howard Shore

Avaliações dos usuários

Não há avaliações ainda. Seja o primeiro a escrever uma.

Avalie o filme

Share on whatsapp
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on email
Share on telegram