A Lenda de Tarzan (“The Legend of Tarzan”)

É o triunfo da tecnologia sobre a narrativa; do ter o que mostrar sobre o saber o que mostrar. É a maior armadilha em que uma superprodução pode cair. E essa caiu direitinho.

Asséptico, esta nova encarnação traz Alexander Skarsgård (“O Sistema”) como protagonista anos depois de sua descoberta já no modo de lorde inglês na Londres de 1890 e casado com Jane (Margot Robbie de “Golpe Duplo”). Ele é convidado para voltar ao Congo para inspecionar as obras feitas pelo Rei Belga, porém mal sabe que isso é uma armadilha orquestrada pelo vilão clichê Leon Rom (Christoph Waltz de “007 Contra Spectre”) para captura-lo, leva-lo a uma tribo que quer a sua cabeça e ser recompensado com diamantes capazes de torna-lo o senhor do Congo.

É uma surpresa que o diretor David Yates, que dirigiu quatro episódios da saga de “Harry Potter” com tamanha competência, tenha, não só embarcado num roteiro raso, mas também tenha contribuído para tornar o projeto ainda mais falho do que ele já seria. Um dos pontos chave da trama, principalmente na afinidade emocional com o espectador, são os flashbacks que mostra a origem do herói, entre outros acontecimentos importantes. E eles são tratados de maneira tão desleixada que aquele que juntaria as peças do quebra cabeça sobre a motivação de uma tribo ter ódio de Tarzan quase não se percebe, não conferindo a mínima emoção. A consequência disso é que toda reação presente ao que é mostrado no passado também não se traduz em termos de conexão com o público. Assim, é mais fácil o público rir com o personagem de Samuel L. Jackson (“Os Oito Odiados”) como um improvável parceiro de Tarzan, desnecessário, mas engraçado, do que temer pelo casal de heróis ou pela vilania de Rom. Aliás, Waltz encarna no automático seu bandido de costume (não que seja ruim), mas até as suas motivações comparadas com o nível da sua crueldade não são compatíveis.

Para entender o quanto o roteiro parece ter largado de mão sobre a relevância do Tarzan, o grito emblemático de Tarzan chega até ser tratado com um certo escárnio como se seus realizadores sequer acreditassem na composição do personagem.

Ótimos efeitos especiais se perdem numa fotografia confusa, a qual mostram selvas fechadas, planícies abertas, pradarias, montanhas, mas nunca há uma conexão física entre elas, muito menos sentido quando a câmera abre mais o foco e o espectador enxerga apenas selva.

Resultado: “A Lenda de Tarzan” foi feito nas coxas com clichês pra lá de batidos e uma previsibilidade que chega a dar vergonha alheia. Para ver um filme apropriado sobre o herói, assista a “Greystoke: A Lenda de Tarzan” de 1984 com Christopher Lambert.

Curiosidades:

– Havia uma cena de beijo gay entre Leon Rom e Tarzan quando este último está desmaiado. O diretor preferiu cortar para não polemizar.
– No flashback, reparem que a Jane está mais magra como uma adolescente. O corpo é de outra atriz e apenas o rosto de Margot Robbie foi inserido digitalmente com o mesmo princípio iniciado por “O Curioso Caso de Benjamin Button”.

Ficha Técnica

Elenco:
Alexander Skarsgård
Christoph Waltz
Samuel L. Jackson
Margot Robbie
Djimon Hounsou
Jim Broadbent
Ben Chaplin
Sidney Ralitsoele
Osy Ikhile
Mens-Sana Tamakloe
Antony Acheampong
Edward Apeagyei
Ashley Byam
Casper Crump
Adam Ganne

Direção:
David Yates

Produção:
David Barron
Tony Ludwig
Alan Riche
Jerry Weintraub

Fotografia:
Henry Braham

Trilha Sonora:
Rupert Gregson-Williams

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