A Vida Depois de Yang (“After Yang”)

Um filme bem mais profundo que meras palavras podem contar. Fala de amor, preconceito, relações com abordagens diferentes e inovadoras.

Vamos tentar: o futuro imaginado pelo cineasta Kogonada é otimista, com tecnologia discreta e eficiente, preocupação com o ambiente (reparem no figurino sem nenhuma peça de plástico) e relações interpessoais amistosas, onde a razão supera a violência. Chegou-se num ponto onde androides ou techo-humanos, como são chamados, são feitos de material biológico.

Yang é um deles (vivido por Justin H. Min) e habita a residência de uma família que retrata a própria diversidade desse futuro: o caucasiano Jake (nosso mais novo Pinguim Colin Farrell) é casado com a afrodescendente Kyra (Jodie Turner-Smith) e adotaram uma bebê asiática Mika (a fofura atriz da indonésia Malea Emma Tjandrawidjaja).

Yang faz parte da família, mas também tem a missão de inserir Mika na sua cultura asiática de origem, o que a faz ser bastante apegada a ele. Quando Yang para de funcionar, isso provoca um problema de relacionamento com a dinâmica familiar e Jake, ao mesmo tempo em que tentar consertar Yang já sabendo da potencial impossibilidade, também acaba tendo acesso a suas memórias que vai revelar um impensável segredo sobre a natureza desses andróides.

A premissa descrita acima também funciona como um panorama sobre a preocupação do roteiro e direção de não só situar o espectador no tempo, mas aprofundá-lo no contexto social da época, o que é muito mais importante do que apenas a história principal. Saber que, por exemplo, com toda a diversidade existe um “novo” preconceito velado contra clones é uma ótima alusão à nossa sociedade, e também uma lição de como o protagonista lida com isso.

Aliás, o elenco está ótimo, mas Colin Farrell se supera aqui como se superou no novo Batman, mas num tipo de atuação totalmente diferente, muito mais singela e emocionante. Ele faz uma espécie de jornada física, emocional e também pelas memórias de Yang, tempo que é investido com carinho por Kogonada e na levada da belíssima trilha sonora de Aska Matsumiya.

Todas as cenas encantam com significados. Para citar apenas duas, reparem que as cenas onde os personagens humanos lembram de alguma coisa são povoadas com tomadas diferentes e repetições para demonstrar como somos falhos nas nossas lembranças, ao passo em que as lembranças de Yank são tão precisas que contém mecanismos de busca e inclusive GPS; e também a sensacional cena de abertura dos créditos com todos os personagens numa espécie de competição entre famílias onde o sincronismo de cada família também representa seu grau de união que será discutido posteriormente.

Apenas o desfecho carece de um timing melhor depois do clímax onde poderia ser mais desenvolvido ou mais editado. Acabou tendo uma falsa noção de continuidade onde, dessa vez, o subjetivo mais atrapalha que ajuda.

Ainda assim, “A Vida Depois de Yang”, baseado no conto “Dizendo Adeus a Yang” de Alexander Weinstein, lançado em 2016, é um drama de ficção científica obrigatório, não só pela emoção da história, mas também como uma análise das relações humanas entre o como é e o como poderia ser.

Ficha Técnica

Elenco:
Colin Farrell
Jodie Turner-Smith
Malea Emma Tjandrawidjaja
Justin H. Min
Sarita Choudhury
Clifton Collins Jr.
Haley Lu Richardson
Orlagh Cassidy
Ritchie Coster
Ava DeMary
Adeline Kerns
Ansley Kerns
Lee Wong
Brett Dier
Kara Young
Eve Lindley
Nana Mensah
An-Li Bogan
Deborah Hedwall
Katie Honaker

Direção:
Kogonada

Produção:
Andrew Goldman
Caroline Kaplan
Paul Mezey
Theresa Park

Fotografia:
Benjamin Loeb

Trilha Sonora:
ASKA

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