Águas Profundas (“Deep Water”)

Quando Ben Affleck faz um filme com uma namorada, geralmente duas coisas acontecem: eles se separam pouco depois e o filme é muito ruim. Foi assim com Jennifer Garner no pavoroso “Demolidor” de 2003, com Jennifer Lopez em “Contrato de Risco” também em 2003, e a história se repete com esse “Águas Profundas” com a lindíssima Ana de Armas, vista recentemente em “007 – Sem Tempo Para Morrer”.

Aliás, suspenses erótico-sensuais (aqueles meio soft porn para ser mais apelativos) dificilmente dão certo, salvo exceções como por exemplo, o clássico “Dublê de Corpo” de 1984 dirigido pelo mestre Brian de Palma, “Instinto Selvagem” de 1992 por Paul Verhoeven, o subestimado “Femme Fatale” de 2003 e também de Brian De Palma, ou ainda outro clássico, “Atração Fatal” de 1987 por Adrian Lyne.

É esse mesmo Adrian Lyne, que não dirigia um filme há exatos 20 anos, que tentou em vão repetir seu feito de construir um bom thriller sensual. O casal protagonista Affleck e Ana de Armas são respectivamente Vic e Melinda que, além de uma filha pequena, tem uma relação meio que doentia, tanto quanto aberta. Melinda faz questão de ficar com outros homens com a ciência de Vic, o que o deixa num dilema entre amor e ódio. Quando um dos amantes de Melinda morre “misteriosamente”, todos indícios apontam para Vic, incluindo o ódio da própria esposa.

Percebam que a palavra misteriosamente veio entre aspas na sentença passada. Isso porque o mistério de verdade é entender qual motivo fez o filme revelar tão rápido o assassino, o que praticamente acaba com todo o suspense.

O diretor simplesmente joga o que deveria ser a trama principal pela janela e foca no relacionamento dos personagens principais. Não que o tema não seja interessante e, logo no início, não deixa de ser curiosa a dinâmica entre os dois. Mas daí a passar meia hora até que o crime (???) aconteça e praticamente 10 minutos depois revelar o culpado sem o mínimo suspense foi uma das decisões mais equivocadas do roteiro.

Só não é a pior decisão, pois no último ato, o assassino se mostra tão amador que não deve ter lido o manual de como matar alguém e destruir provas, pois há uma cena sobre o tema que é tão medíocre e ofensiva para qualquer inteligência e ao mesmo tempo crucial para o desfecho da trama que mata qualquer possibilidade de redenção de seus realizadores.

Talvez o único ponto interessante é que a composição entre narrativa e direção fez com que alguns estereótipos fossem invertidos, deixando Melinda como uma fêmea escrota e Vic quase como sociopata herói (sarcasmos a parte, é claro).

Águas Profundas” ainda contém a ironia de que o clímax se passa em águas rasas. É justo para um filme que afundou. Tss tss tum.

Ah, tem uma cena no meio dos créditos muito fofa (pra quem conseguir chegar até lá).

Curiosidades:

– Há uma cena em que aparece o RG de um dos amantes de Melinda, interpretado por Finn Wittrock de “Coragem em Campo”. A data de nascimento no RG é realmente a mesma do ator.
– Um dos personagens que suspeita de Vic é um roteirista interpretado por Tracy Letts de “Adoráveis Mulheres” que também é roteirista de verdade.
– No início Vic sugere à Melinda que vá na festa com um vestido preto. Chegando na festa, todas as mulheres estão vestidas de preto.
– Quando um personagem se afoga, Vic diz que sabe fazer primeiros-socorros, só que ele começa fazendo errado: ele tanta achar o pulso, mas esse procedimento só se faz caso a pessoa esteja respondendo.
– O começo e o fim do filme começam com a mesma cena de Ana de Armas, mas com diferentes cenas de Bem Affleck. Essa técnica é chamada Efeito Kuleshov, um experimento psicológico onde o espectador percebe diferentes nuances numa mesma cena ou foto dependendo da cena ou foto seguinte que se reveza. Se quiser saber mais, vai na Wikipedia.

Ficha Técnica

Elenco:
Ben Affleck
Ana de Armas
Tracy Letts
Grace Jenkins
Dash Mihok
Rachel Blanchard
Kristen Connolly
Jacob Elordi
Lil Rel Howery
Brendan Miller
Jade Fernandez
Finn Wittrock
Michael Braun
Devyn A. Tyler
Michael Scialabba

Direção:
Adrian Lyne

Produção:
Guymon Casady
Benjamin Forkner
Anthony Katagas
Arnon Milchan

Fotografia:
Eigil Bryld

Trilha Sonora:
Marco Beltrami

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