Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (“Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore”)

Há uma cena neste novo “Animais Fantásticos”, em que uma personagem diz que, como Grindewald consegue prever partes do futuro, o melhor plano é não ter plano, algo para fazer com que ele se perca e se confunda. Talvez tenha dado tão certo que é mais ou menos assim que o espectador deve se sentir, perdido e confuso, mas pelos motivos errados.

A verdade é que a franquia está cada vez mais estranha. Essa tentativa de sobrevida do mundo que deu origem ao bruxinho Harry Potter, o mais amado do mundo, começa a dar sinais estruturais de cansaço de descarrilhamento de narrativa.

Até então o que sabíamos que a trama principal é a ascenção e queda do mago Grindewald, antigo parceiro de Dumbledore, pelos olhos do magizoologista Newt Scamander. Enquanto a primeira parte foi extremamente competente em estabelecer o contexto e a segunda parte, ainda que um pouquinho inferior, começou a expandir o alcance da história, essa terceira parte parece atirar para todos os lados e ainda assim ser meio capenga.

O diretor David Yates, responsável pelos três filmes da franquia e pelos quatro últimos filmes de “Harry Potter” comete alguns erros primários, juntamente com a própria roteirista J. K. Rowlings que dessa vez não tem livros para servirem de base e vai escrevendo aquilo que dá na cabeça.

O primeiro deles e não manter o elenco coeso: dessa vez nem Katherine Waterston que faz a Tine, interesse amoroso de Newt dá as caras (só no finalzinho) e praticamente provoca um racha em seu arco narrativo. Ao invés disso introduz uma série de personagens que entram mudos e saem calados. Um deles, inclusive, o mago Yusuf Kama da linhagem Lestrange, interpretado por William Nadylam de “Stillwater – Em Busca da Verdade”, tem uma participação constrangedora onde ele não só fica de boca calada em 99% das suas aparições, como nem apresenta nenhum movimento facial pertinente. Isso faz com que o espectador não crie afinidade com ninguém, até pelo segundo erro: os personagens principais estão apáticos.

Newt, o protagonista, é quase um figurante em cena. Quando Dumbledore diz que não poderia ter feito o que fez sem ele, até chega a ser irônico, pois aparentemente qualquer um poderia ter feito o que ele fez. Isso faz com que o trouxa Jacob Kowalsky seja, de longe, o melhor personagem da franquia e, até ele, não parece estar tão bem nessa parte.

O grande segredo de Dumbledore, não deixa de ter impacto, mas são tantas as pequenas subtramas e personagens que é mais uma oportunidade que se perde. Finalmente, Grindewald, que por conta do escândalo envolvendo Johnny Depp, teve que ser substituído por Mads Mikkelsen (“Outra Rodada”), aperece – não por culpa dele – como um vilão unidimensional com aquela sanha genérica de dominar o mundo. Até mesmo a linha condutora do filme, a eleição de um novo senhor da magia, é algo que praticamente não tinha ligação com as produções anteriores, como se somente agora tivesse sido pensada.

Essa falta de conexão narrativa entre os episódios da série, bem como da própria dinâmica entre os personagens levam a franquia para um patamar cada vez mais mediano, não condizente com o potencial que o mundo mágico teria para oferecer.

Sim, temos a analogia de um cenário político mundial onde o facismo tenta imperar, inclusive com algumas coincidências, como na frase em que um personagem diz “…ele que até então era um criminoso, agora concorre para senhor da magia…”, mas esse contexto inteligente muda pouco o ponteiro quando a trama principal não se ajusta.

Finalmente, não ajuda a quase completa falta de cenas de ação, cenas empolgantes e, as que existem, muitas vezes são confusas, não permitindo que o público saiba exatamente o que está acontecendo, ou mesmo o resultado da cena. Digo que se tem uma coisa que a franquia ainda não aprendeu é como matar um personagem. Desde “Harry Potter” as mortes são tão camufladas que se passa até alguns segundos para que se entenda que determinado personagem morreu ou o inverso, que ele sobreviveu.

Animais Fantásticos e o Segredo de Dumbledore” tem seus bons momentos que lembram a atmosfera que o público ama, mas como narrativa é um passo atrás no desenvolvimento do que virá a ser a maior guerra do mundo bruxo.

Ficha Técnica

Elenco:
Jude Law
Mads Mikkelsen
Eddie Redmayne
Dan Fogler
Alison Sudol
Jessica Williams
William Nadylam
Victoria Yeates
Ezra Miller
Maria Fernanda Cândido
Katherine Waterston
Poppy Corby-Tuech
Maja Bloom
Paul Low-Hang
Callum Turner
Richard Coyle
Manuel Klein
Aleksandr Kuznetsov
Oliver Masucci
Valerie Pachner
Ramona Kunze-Libnow
Dave Wong
Lucas Englander
Fiona Glascott
Jan Pohl
Matthias Brenner
Peter Simonischek

Direção:
David Yates

Produção:
David Heyman
Steve Kloves
Tim Lewis
J.K. Rowling
Lionel Wigram

Fotografia:
George Richmond

Trilha Sonora:
James Newton Howard

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