Batman (“The Batman”)

A DC já mostrou por várias vezes – e o novo filme do Flash a ser lançado vai confirmar – que seu universo é muito mais desconectado que o da Marvel e que vários eventos sem nenhuma relação podem ocorrer em paralelo e sem compromisso, como se cada conjunto de filmes se passasse num multiverso diferente, sendo o maior até agora o de Zack Snyder onde, por exemplo, “Liga da Justiça”, “Shazam” e “Esquadrão Suicida” pelo menos se conversam.

Se por um lado não prende o espectador a um grande plano como o MCU, por outro, dá aos seus realizadores liberdade criativa para fazerem o que quiserem. No caso de Batman, que teve mais intérpretes que James Bond, cada exemplar é uma releitura do mito (e por mito quero dizer, o Batman), desde os anos 60 com a quase andrógina série, passando pelo estilizado Tim Burton e depois com outros diretores que deram uma denegrida na franquia, até a ressurreição com a excelente trilogia de Christopher Nolan, e finalmente chegando em Zack Snyder com Ben Affleck e companhia.

Parece haver uma tendência de humanização (no sentido de realismo) do personagem e de seu universo, e Matt Reeves de “Planeta dos Macacos” levou isso literalmente. Sua Gothan City é uma cidade opressiva e mergulhada no caos e corrupção com manhãs nubladas, noites soturnas, chuvas constantes e o crime generalizado.

Seu Batman é Robert Pattinson que ironicamente alçou o estrelato num papel de vampiro e agora interpreta um “morcego”. Com dois anos de trabalho, o Batman de Pattinson já está exaurido, cheio de cicatrizes, completamente desgostoso com a vida de Bruce Wayne e com muitas dúvidas se Batman está fazendo a diferença. Movido pela vingança do assassinato dos pais – que ainda bem não é mostrado aqui pela milésima vez – ele busca sempre pelo próximo malfeitor, mesmo que ainda mantenha a filosofia de não matar ninguém.

Seu universo de vilões se aproxima daquele de Nolan, com Falcone (John Turturro de “Gloria Bell”) e até o Pinguim (Colin Farrell de “Ava”, irreconhecível!) como mafiosos que praticamente dominam Gothan, enquanto nosso herói alado já aparece em parceria com o Comissário Gordon (Jeffrey Wright de “A Crônica Francesa”) nessa luta contra o crime. Até que aparece um novo elemento da equação, o Charada (Paul Dano de “The Beach Boys: Uma História de Sucesso”) que misteriosamente vai matando cada figurão da cidade para se vingar contra algo que o próprio Batman ou Bruce Wayne podem estar envolvidos.

A bem da verdade o diretor deu muito mais ênfase na criação de seu universo do que na trama principal. É como se o clássico de suspense “Se7en – Os Sete Pecados Capitais” fosse um filme de super-heróis. Ou como se o Charada estivesse fazendo o cosplay do assassino visto no outro thriller baseado em eventos reais, “Zodíaco” (até o figurino lembra).

Ao contrário de uma abordagem épica, Reeves optou pela claustrofobia de lugares apertados – mesmo que ao ar livre – e tons de cinza e sombras, com um Batman muito mais humano, vulnerável e sedento de vingança. Poucos recursos tecnológicos e até um Batmóvel que é praticamente um carro musculoso e turbinado vão torneando a aura de realismo, inclusive pela primeira vez vemos a maquiagem dos olhos do herói para os deixarem escuros ao colocar a máscara, sempre sofrida como se esse sofrimento o levasse à libertação.

Se há um destaque de ouro é a inabalável trilha sonora de Michael Giacchino (sim, o mesmo de “Homem Aranha – Sem Volta Para Casa“) e desde o trailer é uma peça chave que incita o caos e a desesperança de um universo despedaçado pela maldade, onde o próprio herói parece tão grotesco e temível quanto os criminosos que ele enfrenta.

A dinâmica da narrativa e de seus personagens funciona perfeitamente com algumas boas reviravoltas dignas de um ótimo suspense e no último ato, aí sim, o espectador vê algo mais épico, mas sempre dentro do escopo de realidade que o diretor impôs ao seu universo. Inclusive há uma sensacional rima poética com o propósito de vingança e o que separa o herói do bandido.

O desfecho tem uma ótima porta aberta para a continuação, mas que poderia ter sido potencializada se essa porta (sem spoilers) se conectasse com outro filme da DC e contratassem o mesmo ator. Aí foi uma oportunidade perdida.

Para quem queira perguntar para mim, qual o melhor filme do Batman: Ainda é “O Cavaleiro das Trevas” de Christopher Nolan. Mas este vem logo em seguida.

Para quem queira perguntar para mim, se o Charada é melhor que o Coringa de Heath Ledger ou de Joaquim Phoenix: Nunca, mas Paul Dano fez um ótimo trabalho. Aliás, acho que sua história até poderia ter sido melhor trabalhada já que foram quase 3 horas de filme.

Batman é obrigatório sim e faz a imersão do público num universo totalmente novo e depressivo, quase como num filme de terror, onde Pattinson brilha justamente por ser o mais sofrido e pessimista de todos os Batmans e também com vilões realistas atuando no ponto certo de equilíbrio. Que venha mais uma trilogia de sucesso!

Ah, não há cena pós créditos.

Curiosidades:

– A primeira vez que Colin Farrell foi maquiado como Pinguim, ele testou a maquiagem indo num Starbucks ao lado dos sets de filmagem. Ninguém o reconheceu, mas algumas pessoas o ficaram encarando.
– Há uma cena em que o Pinguim é amarrado e na hora de caminhar, ele fica andando parece um pinguim, o que claramente foi uma piada interna.
– Apesar de não ser do mesmo multiverso, o filme se passa exatamente 20 anos depois dos eventos vistos em “Coringa”.
– Zoë Kravitz de “Dope – Um Deslize Perigoso” que interpreta a Mulher-Gato, já dublou a mesma personagem num desenho animado.

Ficha Técnica

Elenco:
Robert Pattinson
Zoë Kravitz
Paul Dano
Colin Farrell
Peter Sarsgaard
John Turturro
Andy Serkis
Jeffrey Wright
Barry Keoghan
Todd Boyce
Max Carver
Charlie Carver
Alex Ferns
Con O’Neill
Joseph Balderrama
Mark Killeen
Jay Lycurgo
Jayme Lawson
Lorraine Tai
Janine Harouni

Direção:
Matt Reeves

Produção:
Dylan Clark
Matt Reeves

Fotografia:
Greig Fraser

Trilha Sonora:
Michael Giacchino

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