Cães Selvagens (“Dog Eat Dog”)

Dizem que tem cineastas que já contribuíram tanto com a sétima arte que chega um momento de suas vidas que eles têm o direito de fazerem no cinema o que bem entenderem. Se é assim, então o diretor e roteirista Paul Schrader está aproveitando esse direito ao máximo. O mesmo homem que nas décadas de 70 e 80 escreveu os premiadíssimos clássicos “Taxi Driver” e “Touro Indomável” e dirigiu cults como “A Marca da Pantera” e “Gigolô Americano”, teve sua mais recente empreitada como o péssimo “Vingança ao Anoitecer” com Nicolas Cage e, sabe-se Deus porque, ele retoma a parceria pra fazer algo tão ruim quanto.

A ironia é que “Cães Selvagens” passou a tênue linha que separa um filme muito bom de um muito ruim. Três vigaristas de mentes distópicas refletidas, pelo menos no início, em delírios visuais do diretor, vivem de pequenos crimes até se depararem com um grande trabalho: raptar um bebê para recolher uma fortuna. Nem é preciso dizer que tudo dá mais do que errado. Só que por “tudo”, entenda inclusive a produção.

Com pouquíssimos momentos inspirados, a o roteiro não tem ritmo, nem rima, nem prosa e joga os acontecimentos na cara do espectador, hora aceleradíssimo, hora devagar quase parando e faz uma tentativa frustrada de brincar de Tarantino, só que troca os diálogos inteligentes por enfadonhos e sonolentos, enquanto o diretor parece não se incomodar. Nem as conexões visuais ajudam que iniciam num tom “woodstockiano” e vai ficando tradicional com o passar do tempo como se fossem diretores diferentes em cada segmento. Quando mais avança, menos sentido faz, além de ter uma sequência tão aleatória de acontecimentos que não se entende nem o propósito de cada personagem.

Aliás, Cage está canastríssimo como sempre tendo apenas um ou outro momento de iluminação mais por causa do roteiro do que por seu mérito. Quem rouba todas as cenas, mesmo tendo que rebolar pra fazer suas falas tão desinteressantes em algo consumível, é Willem Dafoe (“A Grande Muralha”) que interpreta um sociopata drogado e muito louco, beirando a comédia. E justamente é de se estranhar que seu tempo em tela seja reduzido. O terceiro do bando é o desconhecido e desnecessário Christopher Matthew Cook que seria bem melhor se entrasse mudo e saísse calado.

O desfecho sem pé nem cabeça tenta emular uma atmosfera de sonho num cosplay de David Lynch e mais uma vez frustra o público. Existe algo de interessante na história de “Cães Selvagens” que seus realizadores simplesmente não conseguiram decifrar e, mais preocupados com uma estética que não se banca, tenta ser cult, mas se perde em sua própria linguagem e leva junto a trama pro ralo.

Curiosidades:

– Nicolas Cage deu de seu salário U$ 100 mil para Willen Dafoe aceitar o papel.
– Paul Schrader tentou convencer vários diretores – incluindo Tarantino, Scorcese – para fazer o papel do mafioso Grecco e ninguém aceitou. Então ele mesmo fez, sendo a primeira vez que o diretor atua.

Ficha Técnica

Elenco:
Nicolas Cage
Willem Dafoe
Christopher Matthew Cook
Omar J. Dorsey
Louisa Krause
Melissa Bolona
Reynaldo Gallegos
Chelcie Lynn

Direção:
Paul Schrader

Produção:
Brian Beckmann
Mark Earl Burman
Gary Hamilton
David Hillary

Fotografia:
Alexander Dynan

Trilha Sonora:
Nicci Kasper
Deantoni Parks

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