Cinquenta Tons de Cinza (“Fifty Shades of Grey”)

Uma jovem tímida que conhece um homem que vive num outro mundo e tem em seu grande dilema entrar ou não neste mundo. Claramente parece a sinopse de “Crepúsculo“. Só que (pasme) infelizmente não é, pois “50 Tons de Cinza”, apesar de ser praticamente uma cópia da série, trocando os poderes vampíricos pelo poder do dinheiro, consegue jogar ainda mais absurdos na cara do espectador.

Dakota Johnson, filha de Don Johnson com Melanie Griffith, de “Need for Speed” é a tal jovem tímida do livro. Começa que no primeiro ato, mais que tímida, ela interpreta quase uma autista; mais que ingênua, ela parece uma completa retardada. Nesse ponto, a Bella de “Crepúsculo” sai na frente. Ela conhece o Sr. Grey (Jamie Dornan da série “The Fall”) que no quesito beleza está melhor que o vampiro Edward, mas no de interpretação fica uma dura batalha pra ver quem é o pior (Edward, Grey ou o Cigano Igor).

De cara ele se interessa por ela por razões que a própria razão, roteiristas e autora desconhecem. O lance é que além de exalar dinheiro por todos os poros, sendo dono de uma empresa que ninguém sabe exatamente o que faz (tipo aquelas das novelas das 20h da Globo), o cara tem um fetiche sadomasoquista. Só que ele tem algo pior do que isso, cerne do livro e filme, que seria até cômico se não fosse ridículo: para preservar sua discrição, ele faz as mulheres assinarem um contrato que detalha cada aspecto de submissão que a mulher deve se prestar. E o segundo ato basicamente se concentra nessa discussão que pode até arrancar risadinhas desconcertantes de constrangimento, não pelas cenas sexuais, mas pelo conteúdo absurdo.

A essa altura, a Anastasia Steele de Johnson sofreu uma metamorfose interpretativa onde passa de imbecil a uma mulher apaixonada, mas totalmente segura do que quer (ela dormiu de um jeito e acordou de outro?). Por sinal, o que ela quer (é um spoiler, mas por favor…) é perder a virgindade com o bilionário Grey (aliás, ela e metade das mulheres desse mundo). E tem-se a cena de perda de virgindade mais rápida da história. Tão rápida que dá até pra desconfiar que o papo dela sobre virgindade era picaretagem. Só até aí, o filme já se prova mais machista que qualquer romance dos últimos tempos.

Continuando a analogia com “Crepúsculo“, algumas sequencias parecem ter sido meras adaptações da série: quando Anastasia passeia com Grey no helicóptero, praticamente estamos vendo Bella em cima de Edward enquanto este corre a uma velocidade sobre humana na floresta; quando Anastasia conhece a família de Grey é quase Bella conhecendo a família Cullen, e assim por diante. A protagonista feminina conseguiu até replicar a mordida de lábio de Kristen Stewart como Bella, tão sacaneada na Internet.

Para um filme que recebeu censura branda no Brasil, até que é bastante apimentado com cenas de sexo expondo Dakota Johnson (palmas para sua beleza), o que, de cara, fica meio apelativo para o filme, até porque as tais cenas passam longe do que se chama de interpretação natural, mas cada geração tem o “9 ½ Semanas de Amor” que merece.

Agora, pra quem não leu o livro e estava esperando o tema do sadomasoquista subir à tona vai se decepcionar. Aliás, para quem tinha alguma expectativa desse tipo, o protagonista masculino parece mais um garoto mimado que quer ser um pegador discreto do que o perfil de um fetichista.

As poucas referências interessantes dificilmente serão entendidas por um público infanto juvenil que tem em obras como esta e Crepúsculo suas pérolas literárias e cinematográficas. Um exemplo é quando Anastasia cita a misteriosa “mentora” de Grey como Sra. Robinson, fazendo uma analogia ao clássico “A Primeira Noite de um Homem” de 1967 onde o personagem vivido por Dustin Hoffman é um virgem seduzido por uma mulher mais velha, interpretada por Anne Bancroft.

O destaque positivo (e olhe lá) vai para a trilha sonora com ótimas composições de Beyoncé, Ellie Goulding, The Weekend, Sai e a nata dos artistas modernosos da atualidade.

Fora isso, “50 Tons de Cinza” mais parece um pobre conto da carochinha pseudo erótico para os seguidores descerebrados de “Crepúsculo” com mais testosterona e estrógeno do que neurônios.

Ficha Técnica

Elenco:
Dakota Johnson
Jamie Dornan
Jennifer Ehle
Eloise Mumford
Victor Rasuk
Luke Grimes
Marcia Gay Harden
Rita Ora
Max Martini
Callum Keith Rennie
Andrew Airlie
Dylan Neal

Direção:
Sam Taylor-Johnson

Produção:
Dana Brunetti
Michael De Luca
E.L. James

Fotografia:
Seamus McGarvey

Trilha Sonora:
Danny Elfman

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