Taí um filme que mostra o quanto o ator britânico Ray Winstone (“Caçadores de Emoção: Além do Limite”) é subestimado. Ele é Frank, que sofre de Alzheimer e vive como indigente numa casa de repouso, até que recebe a visita do suposto filho James (Jim Sturgess de “Jogada de Mestre”) que o havia procurado e então decide tira-lo de lá na marra. Eles fogem e na viagem o espectador deve desdobrar sobre qual o passado de Frank, qual a relação dele com James e qual a motivação deste para levar o pai pra casa como se fosse mais uma obrigação que uma vontade.
A história e suas reviravoltas tem uma ótima essência, mas o roteiro é um tanto confuso, incompleto e a direção é pretensiosa e dá um valor exacerbado à estética o que confunde o espectador. Para citar alguns exemplos da narrativa falha, no primeiro ato, vemos a polícia no encalço da dupla foragida do hospício, mas depois isso simplesmente desaparece, mesmo depois que eles roubam um carro e ainda façam um estrago pela cidade. O próprio terceiro ato onde o algoz de James (Luke Evans de “A Garota no Trem”) se revela, é incompleto e não mostra as consequências posteriores, preferindo um pot-pourri de imagens para tentar fazer bonito, mas com pouco conteúdo. Além disso, acabamos por conhecer Frank bem menos do que poderíamos, nos limitando a pouco mais no evento enigmático que pauta o roteiro no último ato.
Enquanto isso, o desconhecido diretor Mat Whitecross inicia com algumas boas sacadas visuais, mas parece ter gostado tanto que aplica seus “dotes” artísticos em quase todas as tomadas. Isso não só satura o público, como também muitas vezes mais atrapalha do que ajuda. Ele tenta com isso guardar alguns segredos para revela-los depois, porém o efeito é praticamente de revelar alguns pontos cruciais antes do combinado ou então de simplesmente tornar a sequencia desinteressante.
Por isso que o ponto alto ainda é o protagonista, Ray Winstone que salva o filme de passar despercebido, com uma performance complexa onde o vulnerável e o ameaçador conseguem tomar o mesmo corpo dando uma dimensão bastante abrangente da doença de Alzheimer que afeta a tanta gente. E vamos lá: Jim Sturgees está sempre competente.
“Cinzas” poderia ter sido mais emocionante e mais surpreendente, mas roteiro e direção atrapalharam. O que mais vale é ver Winstone e o elenco que estão irrepreensíveis.
Ficha Técnica
Elenco:
Ray Winstone
Jim Sturgess
Luke Evans
Jodie Whittaker
Lesley Manville
Zoe Telford
Direção:
Mat Whitecross
Produção:
Esther Douglas
Fiona Neilson
Fotografia:
Christopher Ross
Trilha Sonora:
Ilan Eshkeri
Tim Wheeler
