Drive My Car (“Doraibu mai kâ”)

O filme japonês que concorre ao Oscar de Melhor Filme e de Melhor Filme Estrangeiro (agora chamado Internacional), repetindo o feito do coreano “Parasita”, é um bicho bem diferente.

Primeiro que tem 3h de duração, o que pode ser exaustivo independentemente da história e qualidade. Segundo que é um drama de uma nação que é conhecida por ser contida em todas as suas ações e sentimentos, o que faz com que a interação entre os personagens seja bem diferente do que se costuma ver com o gênero nas produções ocidentais.

É sobre pessoas perdidas e presas ao seu passado que através da convivência tem a chance de se libertar. Kafuku (Hidetoshi Nishijima) é um famoso teatrólogo que é convidado a dirigir uma peça em outra cidade. Ao chegar lá, descobre que não pode dirigir o próprio carro e precisa aceitar a companhia de Watari (Tôko Miura) como sua motorista, sempre calada, séria e profissional, apesar do estilo despojado. Na audição para o casting, Kafuku dá de cara com um ex-amante de sua esposa que falecera há 1 ano atrás sob condições misteriosas. Então ele precisa conduzir os ensaios da peça convivendo com esse jovem ex-amante e nas idas e vindas conhecendo um pouco mais da sua motorista que também tem um passado a esconder.

É um filme de diálogos, com algumas cenas de conversa durando mais de 10 minutos cada, onde cada palavra vai revelando um drama ou uma alegria pessoal dos personagens. Interessante como, apesar de termos 2 ou 3 personagens mais proeminentes, a história forma uma espécie de ecossistema de pequenas tramas que vão se aprofundando mesmo em coadjuvantes, como no caso do casal, onde a esposa é atriz e deficiente auditiva, a qual tem duas longas e interessantes cenas, uma delas no último ato que se passa em completo silencia e denota a importância que a diversidade é tida no Japão (e lembra também “No Ritmo do Coração”).

O diretor Ryûsuke Hamaguchi investe seu tempo em gradativamente quebrar as barreiras emocionais de Takafu e Watari e isso é denotado por como Takafu vai abrindo concessões com o seu carro: primeiro ele deixa Watari dirigir, bem depois ele começa a travar conversas mais pessoais, depois vai para o banco da frente, permite que fumem no carro, passando por um ótimo clímax na neve, até o desprendimento total em seu desfecho singelo.

O mesmo acontece com a série de ensaios para a peça onde seu método de aprendizado se confunde com o amor incondicional pela sua falecida esposa. Chega a ser peculiar que os créditos iniciais só apareçam depois de meia hora de projeção, como se o capítulo de sua convivência com a esposa fosse um prólogo.

Ainda assim, difícil justificar as 3 horas. Não que falte conteúdo, mas talvez a imersão proposta para se durar tanto tempo e uma edição de pelo menos meia hora a menos talvez tivesse o mesmo efeito com menos exaustão por parte do espectador.

Drive My Car” consegue ser um belo filme, mesmo que longo demais, que fala de sentimentos com pessoas educadas desde a infância para reprimi-los e por isso se leva um desenvolvimento tão complexo para libertar o que está no peito.

Curiosidades:

– A última cena foi filmada na Coréia do Sul e não no Japão. Os personagens falam coreano (coisa que o brasileiro que não conhece a língua não tem como distinguir) e no final a personagem dirige um carro na mão direita, enquanto no resto do filme passado no japão os carros vão pela mão esquerda (mão inglesa).
– O lado do motorista do carro de Kafuku fica à esquerda (como no Brasil), mas no Japão o padrão é ficar na direita, como na Inglaterra e ex-colônias britânicas. Esse detalhe nunca é discutido ou sequer citado no filme. O carro dele é um Saab 900 Turbo modelo 87.
– Apesar do filme demorar 3 horas, ele é baseado num conto de poucas páginas escrito por Haruki Murakami em 2014, parte de uma coleção chamada “Homens sem Mulheres”.

Ficha Técnica

Elenco:
Hidetoshi Nishijima
Tôko Miura
Reika Kirishima
Park Yu-rim
Jin Dae-yeon
Sonia Yuan
Ahn Hwitae
Perry Dizon
Satoko Abe
Hiroko Matsuda
Toshiaki Inomata
Takako Yamamura
Ryô Iwase

Direção:
Ryûsuke Hamaguchi

Produção:
Teruhisa Yamamoto

Fotografia:
Hidetoshi Shinomiya

Trilha Sonora:
Eiko Ishibashi

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