Golpe Duplo (“Focus”)

Filmes de roubos e golpes têm a premissa de serem recheados de reviravoltas e algumas delas mirabolantes. Mas há uma grande diferença entre excelentes filmes do gênero como “Roubar é uma Arte” e tentativas malfadadas como esse “Golpe Duplo”: o segredo é convencer o espectador que, por mais absurdo que possa parecer, o roteiro faz sentido na prática.

Vamos pegar, por exemplo, a primeira cena do trailer que está aqui no blog: esta é uma interessante cena do ponto de vista artístico e humorístico (e seus 3 minutos que a antecedem), mas que não faz o menor sentido, visto que o personagem em questão poderia ter diversos e mais inteligentes meios de abordagem.

Will Smith (“Depois da Terra”) É Nicky, um golpista profissional que conhece a amadora Jess (a delícia Margot Robbie de “O Lobo de Wall Street”). Ela entra na equipe para um golpe coletivo e após um affair com Nicky, ambos se separam. Anos depois, eles se reencontram num novo golpe, mas talvez de lados opostos.

O filme se divide claramente em três atos, ou melhor, três golpes: o golpe coletivo, o golpe da aposta e o golpe principal, onde um dos participantes e o nosso Rodrigo Santoro como um milionário piloto de corrida e que por sinal trabalha pela segunda vez com os diretores Glenn Ficarra e John Requa que já realizaram o ótimo “O Golpista do Ano”, coincidentemente outro filme de golpe.

Só que dessa vez eles se utilizaram artifícios sujos em todos os atos para enganar o público. Lógico que enganar o público é fundamental para as reviravoltas, mas um bom roteiro faz isso com cenas que fazem parte organicamente da trama e não voltadas unicamente para despistar a trama real sem ter nada a ver com o resto. Por exemplo, no último golpe quando Nicky chama o amigo hilário Farhad (Adrian Martinez de “A Vida Secreta de Walter Mitty”, uma das poucas coisas que funciona no filme): sua função nesse ato, além de fazer algumas piadinhas, é nula. Porém desvia a atenção do espectador.

Tão ruim quanto é a falta de lógica do roteiro. O segundo ato, apesar de tenso (e os diretores se esforçam pra isso), tem uma explicação risível, mesmo que engraçada e praticamente nega todo o primeiro ato (caso queiram entender melhor o porque, perguntem-me via o campo de comentários). E finalmente chegamos ao último golpe onde por mais incrível que pareça, Nicky, que tinha tudo mapeado, não soube da presença de Jess, visto que isso mexeu com ele o que no desfecho fica bastante claro. Essa divergência de fatos seria impossível, segundo o plano em que estava trabalhando (não posso contar para não acabar com a surpresa).

Além do alívio cômico Farhad, a segunda e última coisa que funciona é a trilha sonora de Nick Urata (“Ruby Sparks – A Namorada Perfeita”) que faz uma mistura de jazz com ritmos caribenhos que parece casar perfeitamente com o tema.

Sendo assim, “Golpe Duplo” falha como história e como filme, sendo apenas um veículo desarticulado para manter Will Smith sob holofotes que cada vez mais vem diminuindo sua intensidade.

Ficha Técnica

Elenco:
Will Smith
Margot Robbie
Adrian Martinez
Gerald McRaney
Rodrigo Santoro
BD Wong
Brennan Brown
Robert Taylor
Dotan Bonen
Griff Furst
Stephanie Honoré
David Stanford
Dominic Fumusa

Direção:
Glenn Ficarra
John Requa

Produção:
Denise Di Novi

Fotografia:
Xavier Grobet

Trilha Sonora:
Nick Urata

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