Na Estrada (“On The Road”)

O clássico romance homônimo de Jack Kerouak era considerado impossível de se adaptar. Daí veio Walter Salles que já tinha como experiência o ótimo road movie “Diários de Motocicleta” e provou algumas coisas: Primeiro que o livro podia sim ser adaptado. Segundo, que ele, apesar de brasileiro, parece entender muito bem da época em que se passa o livro. E terceiro, que conseguir adaptar essa obra não significa necessariamente um resultado genial.

Sam Riley que já interpretou o icônico vocalista do Joy Division, Ian Curtis, em “Control”, volta a interpretar outro ícone, Sal Paradise, alter-ego do próprio Kerouak que, na ânsia por escrever um livro baseado em suas experiências no limite, junta-se ao ousado Dean (Garrett Hedlund de “Tron – O Legado”) e sai pelas estradas dos EUA, cruzando com vários personagens que mudarão sua vida e serão regurgitados em forma de livro.

Salles faz um belíssimo trabalho de reconstituição da época, dos costumes e merece aplausos por evocar com perfeição a atmosfera da geração Beat. Seu elenco, principalmente Hedlund, encara com profundidade seus papéis e demonstram uma química que vai muito além das palavras. Porém há pelo menos um grave problema ao se transpor uma narrativa escrita para o cinema: no livro o protagonista Sal / Kerouak não precisa justificar sua genialidade frente a uma atitude a primeira vista infantil e rebelde porque seu próprio livro é a história contada de forma única, ímpar e suas palavras falam por si só. Assim, sem a genialidade de suas palavras, o filme mostra apenas os jovens em sua truncada relação e muitas vezes com ações sem sentido, cometendo pequenos delitos por um prazer imaturo que qualquer jovem em qualquer época teria e cometendo excessos digno de mentes descerebradas com um pretexto idiota de alcançar uma espécie de epifania. Mesmo com algumas passagens de seu livro numa narração em off, o protagonista não convence como o escritor genial que é.

Além disso, Sal parece um coadjuvante em sua própria história, tornando outros personagens muito mais interessantes (ok, talvez até seja esse o objetivo). Destaque para Viggo Mortensen (“A Estrada”, quase o mesmo título, hein?) como o professor Bull Lee e mesmo com uma breve participação, consegue roubar a cena como um dos personagens mais complexos da obra.

A trilha de Gustavo Santaolalla de “O Segredo de Brokeback Mountain” começa muito bem, explorando as vertentes do jazz como o Bebop, mas com o passar da projeção vai se tornando cansativo. Principalmente pelo fato de que o diretor gasta valiosos minutos mostrando um ritual de excessos que apenas mudam de lugar ou de estrada e pouco agrega ao que já havia sido contado.

As tais cenas de nudez com Kristen Stewart (“Branca de Neve e o Caçador”) não são tão radicais quanto se imaginava (mas sim, ela mostra os seios), porém serve para afastá-la cada vez mais da inocente até demais Bella da “Saga Crepúsculo”.

Apesar de não ser um filme ruim para os apreciadores da arte ou de Kerouak, Walter Salles comete finalmente o erro de não posicionar sua obra nem como uma experiência artística, nem como filme comercial, situando-se num caminho híbrido que pode desagradar a maioria. Como experiência artística, poderia citar vide “Howl” com James Franco, biografia de Allen Ginsberg, o qual também aparece em “Na Estrada” na pele do ator Tom Sturridge de “Os Piratas do Rock”. Vale pela relação entre os protagonistas e pela coleção de interessantes personagens ao longo dessa viagem. Viagem esta que poderia ter sido mais curta e que tranquilamente não comprometeria o resultado.

Ficha Técnica

Elenco:
Sam Riley
Garrett Hedlund
Kristen Stewart
Kirsten Dunst
Amy Adams
Viggo Mortensen
Steve Buscemi
Elisabeth Moss
Terrence Howard
Alice Braga
Tom Sturridge
Joe Chrest
Kaniehtiio Horn
Kim Bubbs
Sarah Allen
Giovanna Zacarías
Jake La Botz
Danny Morgan

Direção:
Walter Salles

Produção:
Charles Gillibert
Nathanaël Karmitz
Rebecca Yeldham

Fotografia:
Eric Gautier

Trilha Sonora:
Gustavo Santaolalla

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