Acho justo comparar “O Favorito” com “Vice”, ambos dramas políticos baseados em fatos reais, mas que só o segundo chegou ao Oscar.
Dirigido pelo experiente Jason Reitman (do sensacional “Tully”), este é o primeiro filme onde o diretor sair da dramédia familiar ou pessoal e vai para o espectro político.
Fala sobre Gary Hart, aqui interpretado por Hugh Jackman de “O Rei do Show”, candidato favorito às eleições de presidenciais de 1988, cuja candidatura saiu totalmente dos trilhos quando foi pego num escândalo extraconjugal e, como sabemos, fazendo com que o falecido George Bush (o pai) assumisse a presidência.
Enquanto “Vice” se concentrava em seu protagonista mesmo que perpassasse por um grande elenco e com toda a pirotecnia narrativa, “O Favorito” começa confuso, onde seu primeiro ato foca de forma não assertiva nos meadros da campanha política, jogando na tela uma série de integrantes do comitê de Hart, inclusive seu líder Bill Dixon (J.K. Simmons de “A Intrometida”), tomando várias decisões que não tem aderência para os próximos atos, como se fosse apenas um artifício para esticar o filme ou entrar num clima que logo iria ser mudado. Tanto que é difícil entender como o próprio protagonista se mete na situação (cena da festa no iate) que vai desencadear o escândalo. A partir daí é que o filme começa a rodar.
Hugh Jackman faz uma composição bem interessante e cheia de camadas num personagem que genuinamente acredita em valores que não segue 100%, mas que procura a todo custo separar os valores que ele prega da política que ele faz.
A partir do tema real estabelecido, a condução é burocrática, mas segue um ritmo constante e coerente. Entretanto se furta de mostrar um quadro mais geral das eleições: o nome de George Bush é apenas citado rapidamente em poucas conversas, mas nunca temos a visão dessa concorrência. Aliás, pouco se fala da evolução das eleições, a não ser sobre o impacto do escândalo.
Pra quem conhece o tema, inclusive, há alguns fatos relevantes que não foram mostrados, como uma foto arrasadora de uma mulher de mini-saia que saiu no jornal da época que praticamente destruiu sua candidatura.
“O Favorito” apresenta um Hugh Jackman que dá uma aula de atuação, só que num contexto de direção e roteiro dispersos que não se encaixaram direito e perderam muitas oportunidades de melhoria pra fazer o filme decolar e mostrar como a sociedade da década de 80 mudou a ponto de foro íntimo de políticos ser relevante e às vezes definitivo para a sua carreira.
Curiosidades:
– Hugh Jackman foi convidado para ficar na casa do verdadeiro Gary Hart por alguns dias. Como Hart tinha acabado de fazer uma cirurgia na coluna e não podia subir escadas, ambos dormiram em colchões da sala do térreo o que os aproximou ainda mais.
– Há uma cena em que Hart fica com raiva e um dos atores coadjuvantes deixa cair o notebook porque achou que a raiva era real e que Hugh Jackman estava meio que incorporando o Wolverine.
– Todas as filmagens foram feitas com aparelhos e sistemas com a tecnologia do ano em dos fatos ocorridos na década de 80.
– O personagem Bem Bradley, editor chefe do Washington Post, aqui interpretado por Alfred Molina (“Um Repórter em Apuros”), já foi interpretado por Tom Hanks em “The Post – A Guerra Secreta” e por Jason Robarts no clássico “Todos os Homens do Presidente” de 1976.
Ficha Técnica
Elenco:
Hugh Jackman
Vera Farmiga
J.K. Simmons
Mark O’Brien
Molly Ephraim
Chris Coy
Alex Karpovsky
Josh Brener
Tommy Dewey
Kaitlyn Dever
Oliver Cooper
Jenna Kanell
RJ Brown
Alfred Molina
Mamoudou Athie
Ari Graynor
John Bedford Lloyd
Steve Coulter
Spencer Garrett
Steve Zissis
Bill Burr
Kevin Pollak
Mike Judge
Nyasha Hatendi
Margo Moorer
Kenneth Nance Jr.
Sara Paxton
Toby Huss
Courtney Ford
Rachel Walters
Randy Havens
Jennifer Landon
Joe Chrest
Mike Lawrence
Lee Armstrong
Jonny Pasvolsky
Jeff Witzke
Direção:
Jason Reitman
Produção:
Helen Estabrook
Aaron L. Gilbert
Jason Reitman
Fotografia:
Eric Steelberg
Trilha Sonora:
Rob Simonsen
