O Regresso (“The Revenant”)

O diretor Alejandro González Iñárritu foi o grande vencedor do Oscar no ano passado com “Birdman” e parece que agora vai disputar novamente o páreo como favorito. E não é pra menos: com seu estilo peculiar de filmagem, ele transforma seus filmes em experiências sensoriais, mesmo com a mais simples das histórias.

Leonardo Di Caprio de “O Lobo de Wall Street” tem o toque de midas para a escolha de papéis. Baseado numa história real e no livro de Michael Punke, ele é Hugh Glass, um desbravador que junto com seu grupo participava de uma expedição ainda numa América a ser colonizada, atrás de peles, as quais eram muito valiosas principalmente no inverno. O perigo era iminente, pois tinham índios como principais inimigos, outros colonizadores e, é claro, as forças da natureza. Após ser atacado por um urso, Glass é traído por um dos membros da equipe, Fitzgerald (Tom Hardy de “Crimes Ocultos”) que ainda mata seu filho. Mesmo à beira da morte, no meio das montanhas geladas, ele enfrenta todos os desafios que a natureza coloca atrás de vingança.

Di Caprio interpreta Glass de forma visceral e, mesmo com poucas palavras, encarna com maestria todas as injúrias provocadas em seu personagem e todos os complexos psicológicos que, ao final, o perseguem para sempre. Mas no geral o elenco como um todo incorpora perfeitamente suas personas, inclusive o ótimo Tom Hardy que, como antagonista, consegue fazer o espectador entender suas motivações para a época, mesmo desprezando seus atos.

A parte da experiência começa pela espetacular fotografia de Emmanuel Lubezki que, não por coincidência também foi o diretor de fotografia do ótimo “Gravidade”. Reparem que em ambos os filmes um dos temas centrais é o conflito da sobrevivência entre o homem e a natureza, seja ele no espaço ou nas montanhas geladas. Então Lubezki pegou a essência desses elementos para os dois filmes, já que transformar paisagens com cores excessivamente dominantes (no espaço, o negro; nas montanhas glaciais, o branco) e faz com que sempre estejamos presenciando mundos diferentes de um mesmo contexto, seja através das luzes, do enquadramento ou ainda da melhor escolha dos locais para as cenas.

Aí entra a genialidade de Iñárritu que consegue compor cenas memoráveis, como a batalha inicial que aparece numa complexidade exponencial ao que ele fez em “Birdman”, ou o próprio ataque do urso, cujos efeitos especiais impressionam pelo realismo não só da criatura como da interação dela com o ator, e até mesmo uma luta no terceiro ato que, apesar de intimista tem uma violência explícita que só pôde ser possível através de intervenção digital, o que nunca se percebe.

Muito mais que isso, há toda uma aura mística da psique do protagonista juntamente com o polêmico tema dos direitos dos colonizadores versus os donos da terra que desencadeia numa espiral de violência e torna nublada a própria percepção da realidade e da verdade, visto que a história sempre é contada pelos vencedores e, é justamente essa história que o diretor faz questão de desafiar.

O Regresso” é uma obra inesquecível para ser vista mais de uma vez por causa de tantos detalhes que ela traz, seja na técnica, na narrativa ou nas interpretações. Sem dúvida um dos favoritos ao Oscar.

Curiosidades:

No livro e nos eventos reais, existem grandes diferenças para o filme. São elas (SPOILERS: passe o mouse para ler)

– Glass não tinha filho nem esposa. Sua vingança foi simplesmente por ter sido deixado para morrer.
– Tanto Fitzgerald quanto Bridger sabiam o que estavam fazendo quando deixaram Glass à beira da morte. No filme Bridger é enganado por Fitazgerald. Daí Glass vai atrás dos dois.
– Nem Fitzgerald nem Bridger morrem pelas mãos de Glass.

Ficha Técnica

Elenco:
Leonardo DiCaprio
Tom Hardy
Domhnall Gleeson
Will Poulter
Forrest Goodluck
Paul Anderson
Kristoffer Joner
Joshua Burge
Christopher Rosamond
Robert Moloney
Lukas Haas

Direção:
Alejandro González Iñárritu

Produção:
Steve Golin
Alejandro González Iñárritu
David Kanter
Arnon Milchan
Mary Parent
Keith Redmon
James W. Skotchdopole

Fotografia:
Emmanuel Lubezki

Trilha Sonora:
Carsten Nicolai
Ryuichi Sakamoto

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