Somos Tão Jovens

Num momento em que se consolida a morte do rock nacional como conhecemos, o qual se transforma num pop de bandas pós-Menudo com letras rasas e melodias medíocres, “Somos Tão Jovens” cai muito bem. Não só porque remonta livremente a trajetória até o sucesso do cantor Renato Russo e de sua banda Legião Urbana, mas por funcionar em todos os níveis.

Como obra cinematográfica cumpre bem seu papel. O diretor Antônio Carlos da Fontoura, 74 anos, passou por todas as fases do cinema desde a boca do lixo, até lixos como “Uma Aventura do Zico”, mas também documentários musicais da Gal Costa e Mutantes. Talvez “Somos Tão Jovens” seja o longa mais equilibrado da sua carreira. Divergindo de “Cazuza – O Tempo Não Pára”, o roteiro deixa de lado a doença responsável pela morte do cantor e foca na sua juventude até o primeiro show de sucesso do Legião.

O roteiro não tem nada de genial, mas conseguiu situar o espectador numa Brasília no fim dos anos 70 e início dos 80 com uma cenografia e saturação de cores bastante eficaz e pegou os pontos chave da juventude de Renato para incorporar na história. E falando nele, seu intérprete Thiago Mendonça é uma atração a parte, ou melhor, a atração do filme. Sua caracterização é tão perfeita que um desavisado poderia muito bem pensar que é o próprio Renato Russo em carne e osso na película, e os fãs devem assistir torcendo para uma ressurreição na telona. Não só fisicamente, mas os trejeitos e até a voz que muda do grave nas canções para o levemente afetado nos diálogos fica irretocável. Pena que o mesmo não se pode dizer dos ilustres coadjuvantes que permeiam a história como o pessoal do Capital Inicial, Plebe Rude e até um caricato Herbert Vianna – que tem uma caracterização constrangedora – antes do lançamento dos Paralamas do Sucesso, os quais poderiam e deveriam ser mais trabalhados.

Como jornada musical, a produção é simplesmente sensacional. Primeiramente porque o roteiro conseguiu encaixar todas as músicas mais famosas da banda de forma orgânica (logicamente com diversas licenças poéticas, já que o vocalista não tinha escrito todas as músicas antes da formação do Legião) e totalmente contextualizadas nos momentos marcantes da vida do protagonista. E finalmente pelo arranjo instrumental que desde os créditos iniciais surpreendem, passando por toda a narrativa até um belíssimo solo de piano em seu desfecho.

Mesmo com alguns erros primários e infantis, o grande trunfo de “Somos Tão Jovens” é reunir uma caracterização estupenda, as canções que embalam várias gerações e uma história que tem grande afinidade com a juventude de hoje, mas que ao mesmo tempo situa-se numa ditadura onde a música era usada de forma inteligente como forma de protesto. Para todas as gerações, inclusive a Geração Coca Cola.

Ficha Técnica

Elenco:
Thiago Mendonça
Laila Zaid
Bruno Torres
Daniel Passi
Sandra Corveloni
Marcos Breda
Bianca Comparato
Conrado Godoy
Nicolau Villa-Lobos
Sérgio Dalcin
Olívia Torres
Ibsen Perucci
Nathália Limaverde
André de Carvalho

Direção:
Antonio Carlos da Fontoura

Produção:
Antonio Carlos da Fontoura
Letícia Fontoura

Fotografia:
Alexandre Ermel
Will Etchebehere

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