Em qualquer filme de terror, se o personagem faz um barulho ao se esconder de psicopatas, monstros ou afins, é praticamente uma declaração de morte. A grande originalidade do roteiro desta produção reside em levar esse conceito simples ao extremo: sem maiores explicações, sabemos apenas que o planeta foi tomado por criaturas – que são uma mistura do Alien de Ridley Scott com uma aranha – só que com a peculiaridade de ter um sistema auditivo tão evoluído que consegue captar o menor dos sons e corre rápido para destruir (ou comer) quem o provocou.
Nesse cenário já apocalíptico, conhecemos a família formada por Lee (John Krasinski de “Sob o Mesmo Céu” e que também dirige o filme), sua esposa (Emily Blunt de “A Garota no Trem” que é casada com John Krasinski na vida real!) e seus três filhos. Após uma tragédia vista logo no início, eles tentam reconstruir suas vidas já incorporando o silêncio completo à sua rotina.
Nesse ponto, o roteiro é meticuloso em mostrar como os detalhes dessa rotina conseguem minimizar a probabilidade de um ataque das criaturas mesmo sabendo que elas estão por toda parte e – outro ponto positivo – não se importam em atacar de dia ou de noite. E que qualquer passo fora dessa rotina pode acarretar numa morte quase instantânea. É sob essa tensão constante que o diretor nos coloca.
E se nos demais filmes de terror, os sons altos feitos exclusivamente para manipular o susto do espectador pode ser visto como um artifício sujo, aqui ele não só é justificável como é essencial, visto que o ambiente opera somente entre o contraste do silêncio absoluto com o desespero vindo da ameaça das criaturas.
Finalmente, outro elemento diferenciado do roteiro é a surdez de uma das filhas e como a história trata tanto narrativamente quanto esteticamente (falando da engenharia de som). A atriz mirim Millicent Simmonds – que é deficiente auditiva na vida real – não só desempenha um papel importantíssimo, como também o faz com garra de gente grande. A sacada é que ela mesmo não sabe quando está fazendo barulho e a difere de todos os demais personagens, principalmente quando os fatos são vistos através da sua visão sem som algum.
A combinação de todos esses fatores resulta num terror único que foge da maioria das convenções do gênero e deixa o espectador constantemente sobressaltado. É tudo o que a gente quer de um filme desses.
Curiosidades:
– A sequência de abertura foi a última a ser filmada, porque exigia que o personagem de John Krasinski estivesse com a barba feita.
– O roteiro era para que o filme fosse parte da franquia “Cloverfield”, mas na última hora decidiram fazer um filme à parte.
Ficha Técnica
Elenco:
Emily Blunt
John Krasinski
Millicent Simmonds
Noah Jupe
Cade Woodward
Leon Russom
Direção:
John Krasinski
Produção:
Michael Bay
Andrew Form
Bradley Fuller
Fotografia:
Charlotte Bruus Christensen
Trilha Sonora:
Marco Beltrami