Zootopia – Essa Cidade é o Bicho (“Zootopia”)

Talvez o filme da Disney mais próximo da sua adquirida, Pixar, o que mostra que a cultura da Pixar está de forma benéfica se introduzindo no DNA da Disney. Aliás, talvez seja a animação mais adulta de seu portfólio me que escreve um sensacional tratado sobre preconceito, sendo um filme passível de passar nas escolas, universidades e até ambientes profissionais.

Num mundo onde mamíferos vivem em harmonia como seres humanos, Judy Hopps é uma coelhinha do interior que sonha em ser policial, contra todos que dizem que “lugar de coelha é na fazenda” (frase familiar?). Finalmente ela passa no teste, vai para Zootopia e no distrito policial se decepciona quando é colocada como agente de trânsito e até é enganada pela Raposa Nick, um picareta que, ao contrário de Judy, seguiu a fama de matreira que as raposas têm e acabou sendo um pequeno contraventor. Quando Judy sem querer pega um caso de uma lontra desaparecida, ela descobre que Nick é a única testemunha e ambos vão desvendar um mistério que pode tomar proporções catastróficas para a cidade.

Chega a ser surpreendente a assertividade com que o tema do preconceito é tratado: apesar da aparente harmonia, muitos animais são vistos como estereótipos, por exemplo, a coelha fofinha, a raposa traiçoeira, a preguiça lenta (não à toa estão no serviço público), o leão dominador e até mesmo a ovelha cujos números de habitantes parecem ser usados apenas para conveniência dos seres mais fortes (numa cena política absurdamente verdadeira, atual e com a cara do Brasil). Não há vítimas: todos têm preconceito contra alguma raça e usam esse estereótipo para fortifica-la, até mesmo a nossa heroína. E essa é a beleza do argumento, pois traduz que tanto as minorias quanto as maiorias são tão culpadas quanto as vítimas que se encontram em seus próprios domínios. Isto é, tudo funciona como argumento e seu próprio contraponto, o que a maioria dos seres humanos parece não enxergar, discutindo nas redes sociais sempre em termos de extremos. Por isso as reviravoltas são tão interessantes, pois quebram paradigmas que o espectador pode se pegar pensando ao longo da projeção.

Apesar do tema sério, a comédia é um tempero forte (como deve ser) e a Disney se supera fazendo uma paródia de vários filmes como “O Poderoso Chefão” (talvez uma das mais engraçadas cenas), séries famosas como “Breaking Bad” e finalmente suas próprias produções, como no momento em que vemos cópias piradas e “zootopizadas” de seus filmes como Pig Hero 6 (“Operação Big Hero”) ou Detona Rino (“Detona Ralph”). O próprio chefe de polícia diz que Zootopia não é como aqueles desenhos animados onde você canta uma música e seus sonhos se tornam realidade, finalizando de forma genial com a frase em inglês “Let it go” (música chiclete de “Frozen”).

Para coroar, os aspectos técnicos são intocáveis. Não só a tecnologia – que a maioria dos estúdios já tem – mas a atenção aos detalhes. Logo na primeira cena do teatro, quando vemos um filhote com uma caixa de papelão pregada na cabeça, é possível ver o reflexo da fita adesiva na caixa, ou os mosquitos de um bode que se destacam com a iluminação do lugar, e – impossível não citar – as expressões dos animais que tem muito mais carisma do que muito artista de carne e osso por aí.

Zootopia” tem tudo pra ser o “Divertida Mente” de 2016 com um tema relevante tratado de maneira brilhante sem esquecer a emoção e o bom humor. Um filme para se ver várias vezes, para se refletir, pegar todos os detalhes e, porque não dizer, para se amar.

Curiosidades:

– O filme tem 5 versões diferentes onde os animais que apresentam o jornal na TV mudam de acordo com o país. Na versão brasileira é o Jaguar.
– No filme “Operação Big Hero“>Operação Big Hero” dá pra ver numa cena o pôster de “Zootopia” 2 anos antes dele ser lançado.
– Foi o filme com um dos maiores tempos de produção porque a história passou por grandes mudanças em 2014. Antes o protagonista era Nick e depois se focou em Judy.
– A raposa Nick é totalmente baseada na raposa Robin Hood, outro clássico da Disney de 1973.
– Nick tem 32 anos e Judy 25. Adivinhe como chegou-se a essa idade!
– Algumas das manchas do tigre recepcionista desenham um Mickey. É o famoso Mickey Escondido presente em todas as animações da Disney.
– Judy Hopps é uma referência a Judy Hoffs da saudosa série Anjos da Lei. Na verdade, não é. Só depois se notou a coincidência e continuaram com o nome da protagonista.

Ficha Técnica

Elenco:
Ginnifer Goodwin
Jason Bateman
Idris Elba
Jenny Slate
Nate Torrence
Bonnie Hunt
Don Lake
Tommy Chong
J.K. Simmons
Octavia Spencer
Alan Tudyk
Shakira
Raymond S. Persi
Della Saba
Maurice LaMarche

Direção:
Byron Howard
Rich Moore
Jared Bush

Produção:
Clark Spencer

Trilha Sonora:
Michael Giacchino

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