Rodolfo Marques fala sobre “Austrália”

Mais uma participação do amigo e parceiro Rodolfo Marques, ou para os amigos, Rof!

O que esperar da combinação de um roteiro sensato, um cenário absolutamente fantástico e atores bonitos e consagrados – do naipe de Hugh Jackman e Nicole Kidman? Um grande filme, é verdade – mais na forma do que no conteúdo. “Austrália” (2008), de Baz Luhrmann, traz esses aspectos, com quase 3 horas de duração e seqüências que, apesar de previsíveis, são de tirar o fôlego. Até a música de “O Mágico de Oz” (Somewhere Over The Rainbow), conhecidíssima, embalou o romance dos protagonistas e algumas das principais seqüências, tendo um caráter prioritariamente simbólico. É um pouco da veia musical do diretor, que tem em seu currículo o excelente “Moulin Rouge“, com a mesma Nicole Kidman. Há espaço até para um pouco de humor em algumas cenas do filme, que se passa a partir de 1939 e tem a Segunda Guerra Mundial como um pano de fundo.

Ao ver o trailler, é normal imaginar o clima que poderia ocorrer entre os dois astros de Hollywood. Lady Ashley/Senhora Patroa (Nicole Kidman), a aristocrata e o Sr. Capataz (Hugh Jackman, que passa o filme inteiro sem nome), o vaqueiro, apaixonam-se no decorrer da projeção, sem grandes atropelos, e com todos os clichês imagináveis – o que é bom para vender ingresso e atrair público, todavia é desagradável para quem gosta de uma arte cinematográfica mais elaborada. Ademais, a presença do ator mirim aborígene (Brandon Walters, de 13 anos), que faz o personagem Nullah, acaba por trazer um show à parte, com seu olhar arrebatador e sua simplicidade inerente, sendo o principal narrador da história.

O filme não é um documentário e nem um manifesto a favor do respeito às populações nativas de onde quer que seja. Mas só o fato de ser rodado no mais desconhecido e longínquo continente já guarda em si um grande valor histórico e de caráter exploratório. Pode até incentivar o turismo no continente australiano, uma das metas da projeção. A fotografia é formidável e a atuação dos astros hollywoodianos não deixa a desejar, mas falta a marca de obra-prima.

Austrália” perpassa por uma sensação de dançar a valsa de 15 anos com a irmã: ou seja, é agradável, ela é linda, mas falta alguma coisa, pois a mulher com quem você está dançando é a sua irmã. No caso, ‘a irmã’ equivale ao que o filme poderia ter sido. Minha opinião? É um filme melhor do que eu esperava – até mesmo em relação ao depoimento dos críticos – mas é inferior ao que o roteiro tinha de potencial, em especial pela duração do filme e pelos seus clichês imagináveis.

A Academia de Artes Cinematográficas dos Estados Unidos optou por excluir o filme de sua maior premiação – o Oscar 2009. É sempre bom estar e viver no cinema.

[rating:4]

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