Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (“Doctor Strange in the Multiverse of Madness”)

Talvez seja o filme mais frenético, violento e autoral da Marvel. Frenético porque a história já começa com ação máxima e não para até o final. E inicia com um Doutor Estranho de outro multiverso e America Chavez (a estreante Xochitl Gomez), uma garota que tem o poder mutante (opa!) de transitar em qualquer multiverso são perseguidos por uma misteriosa criatura, até que ela cai no nosso multiverso, isto é, no multiverso da MCU e então cabe ao Doutor Estranho desvendar quem está por trás dessa perseguição e proteger a garota. Só que ele vai pedir ajuda para Wanda sem saber que ela, transtornada pela perda do Visão e seus filhos, pode ter outros interesses em jogo.

Para os seguidores da Marvel em seu empreendimento de franquia, cabe dizer que, ao contrário do que muitos dizem, além dos filmes no cinema, só é imprescindível mesmo que o espectador tenha visto a série “WandaVision” para se ter uma total profundidade da história. Aliás, a produção parece muito mais uma continuação direta de “WandaVision” do que do primeiro “Doutor Estranho” ou até mesmo de “Homem-Aranha 3: Sem Volta Para Casa” – apesar desse último ser citado logo no início.

Violento e autoral porque a marca do diretor Sam Raimi que não se senta na cadeira de diretor desde 2013 com “Oz: Mágico e Poderoso” está em todos os lugares. Ele, que havia perdido a confiança de fazer filmes de super-heróis desde as duras críticas que recebeu pela última parte de sua trilogia do “Homem-Aranha” com Tobey Mcguire, topou o desafio e surpreendeu pelas referências cinematográficas a seus outros trabalhos.

Grande parte dos efeitos, principalmente no quesito terror – a possessão de Wanda, as cenas de morte, a cena na do desmaio do Dr. Estranho – tem suas raízes nos primeiros filmes de terror de Raimi como “Evil Dead – A Morte do Demônio” e suas continuações. Ainda assim, o diretor respeitou o cânone particular do herói e arrasou nas cenas de ação e nos efeitos especiais. A violência aparece como nunca antes vista nos filmes da Marvel, mas ainda assim pouco ousada para o potencial que se teria.

Como fan service, é menos do que se espera, apesar de presenças inusitadas em multiversos diferentes, o que é uma saída elegante de se brincar com os personagens das diversas franquias da Marvel sem necessariamente impactar a linha principal do MCU. Particularmente, não sou muito fã de um fan service a qualquer preço e creio que Sam Raimi entendeu perfeitamente a mensagem.

Talvez a único ponto em que a escolha de uma dinâmica frenética de ação deixe a desejar é a exploração dramática de alguns arcos de história, que não são poucos: o principal, é claro (ou vai ficar claro para quem ver) é o de Wanda e talvez seja o mais emocionante; o dilema da felicidade de Steven Strange com seu amor agora platônico também é interessante, bem como o passado de América que provavelmente será explorado em outros filmes ou séries do MCU. Mas tudo isso toca pouco o espectador que se vê imerso em ação ininterrupta sem tempo para sentir o que a história pede.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” cumpre muito bem seu papel de compor o MCU sem macular seu legado e, como sempre, abrindo novas oportunidades para diversas histórias. Agora o desafio da Disney / Marvel é manter o espectador interessado em tudo isso.

Curiosidades:

– “Doutor Estranho 2” era para ter estreado antes de “Homem-Aranha 3”, mas por causa da pandemia não foi possível. Isso porque América Chavez seria um personagem chave na solução do problema de Peter Parker sobre o multiverso. Assim, a Marvel teve que reescrever ambos os roteiros para manter as histórias consistentes.
– Uma das marcas registradas de Sam Raimi é a participação de seu grande amigo Bruce Campbell em todos os seus filmes. Aqui há uma homenagem dupla: ele é o vendedor do outro multiverso que faz uma treta com o Doutor Estranho, o qual faz uma magia para que a mão do vendedor fique batendo nele. Isso também é uma homenagem a uma cena idêntica a “Evil Dead 2: Uma Noite Alucinante” de 1987, onde Campbell é o protagonista e sua mão fica possuída pelo demônio batendo nele e tentando mata-lo.
– Aliás, a história de “Doutor Estranho 2” é muito parecida com “Evil Dead: A Morte do Demônio” onde há um livro, há possessão e há uma garota com sensibilidade especial.
– Outra homenagem feita pelo diretor é na cena em que Wanda aparece com sangue no rosto idêntico à protagonista do clássico “Carrie – A Estranha”.
– As filmagens começaram dois dias depois do término das filmagens da série “WandaVision”.
– Sua marca registrada preferida e usada em todos seus filmes é o seu carro 1973 Oldsmobile Delta 88 que aparece no multiverso em deterioração no início do terceiro ato.
– Na cena em que Strange e América cruzam vários mutiversos, ao todo se conta 20.
– Pela primeira vez Benedict Cumberbatch deixou crescer a sua barba de verdade para encarnar o personagem. Nos outros filmes, era uma prótese.
– Benedict Wong (Wong) quebrou 4 costelas durante as filmagens.
– O monstro de um olho que tenta pegar América se chama Gargantos nas HQs, mas no filme não é citado seu nome.
– O Doutor Estranho de cada multiverso lança feitiço numa cor diferente.
– Toda vez que a Feiticeira Escarlate é vista através de um reflexo a música que toca é a mesma de outro filme de Raimi, “Evil Dead 2: Uma Noite Alucinante”.

SPOILERS – SÓ LEIA DEPOIS DE TER VISTO O FILME!!!

– Quando o Professor Xavier aparece, começa a tocar a trilha original do filme “X-Men”.
– Há uma cena em que o Professor Xavier fala “Não é porque alguém tropeça e perde seu caminho que ele está perdido para sempre”. Ele fala exatamente a mesma frase em “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”.
– Da mesma forma há uma cena em que a Capitã Carter (sim ela mesma), fala “Eu posso fazer isso o dia todo” que é a exata reflexão do bordão do Capitão América em seus filmes.
– Outra frase que foi reutilizada é quando, no início do filme, o Doutor Estranho do outro multiverso diz “No grande cálculo do multiverso, seu sacrifício vale mais que a sua morte”. Em “Homem-Aranha – Sem Volta Para Casa”, o Doutor Estranho diz “No grande cálculo do multiverso o sacrifício deles vale muito mais que suas mortes”, ao se referir aos vilões do Homem-Aranha nos outros multiversos que morreram em combate ao cabeça de teia.
– No multiverso onde Wanda está seus filhos, eles estão vendo a um desenho chamado “Oswald – O Coelho”. O desenho foi criado por Walt Disney em 1920, mas acabou indo parar nas mãos da Universal Pictures depois de uma disputa jurídica. Daí Disney criou o Mickey Mouse para concorrer com Oswald e acabou sendo um sucesso absoluto. O que quer dizer que nesse multiverso, Mickey Mouse nunca existiu.
– Quando confrontado por Reed Richard, Strange diz “O Quarteto Fantástico não foi um grupo que fez sucesso na década de 60?” Realmente houve uma banda chamada Quarteto Fantástico que em 1967 lançou um single que ficou nos TOP 10 da Billboard. Inclusive no primeiro “Doutor Estranho”, vemos que o protagonista passava o tempo nas cirurgias adivinhando músicas.
– No duelo entre os dois Dr. Estranho’s no último ato, eles usam notas musicais de dois clássicos: nosso herói usa “Symphony No. 5 in C Minor” de Ludwig van Beethoven enquanto o dr. Estranho Sinistro usa “Toccata and Fugue in D Minor” de Johann Sebastian Bach.
– A primeira cena pós créditos mostra Charlize Theron entrando no MCU! Nos quadrinhos ela é Clea, feiticeira poderosa e, quem diria, sobrinha de Dormammu, inimigo do primeiro “Doutor Estranho”. Nos quadrinhos ela já foi até esposa do Doutor Estranho. Vamos acompanhar.

Ficha Técnica

Elenco:
Benedict Cumberbatch
Elizabeth Olsen
Chiwetel Ejiofor
Benedict Wong
Xochitl Gomez
Rachel McAdams
Jett Klyne
Julian Hilliard
Michael Stuhlbarg
Hayley Atwell
Anson Mount
Lashana Lynch
John Krasinski
Patrick Stewart
Charlize Theron
Sheila Atim
Adam Hugill
Bruce Campbell

Direção:
Sam Raimi

Produção:
Kevin Feige

Fotografia:
John Mathieson

Trilha Sonora:
Danny Elfman

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