A Travessia (“The Walk”)

Se tem uma outra produção a que podemos comparar “A Travessia” é “A Invenção de Hugo Cabret”. Neste último Hugo Cabret embarca numa jornada com um robô após a morte do pai. Mas o filme não é sobre isso e sim uma homenagem à sétima arte. Com “A Travessia” acontece a mesma coisa: a biografia de Philippe Petit, o homem queem agosto de 74 atravessou as saudosas Torres Gêmeas através de um cabo de aço, na verdade também presta uma homenagem a toda e qualquer forma de arte.

Por isso o diretor Robert Zemeckis de “O Vôo” disse em seu trailer que o filme seria uma experiência. Pois a arte está em todos os sentidos que o cinema pode proporcionar. Começa em preto e branco e narrado pelo próprio protagonista, vivido avidamente pelo sempre ótimo e carismático Joseph Gordon-Levitt (“Perigo por Encomenda”). A narração remonta uma alusão aos antigos trovadores, uma das espécies mais antigas de arte e a partir daí, usa-se toda a metalinguagem possível sem desvirtuar a narrativa para contar a história de como Petit teve a idéia de atravessar as torres gêmeas, como aprendeu as especialidades de equilibrista e malabares com o mestre Papa Rudy (o impagável Ben Kingsley que coincidentemente também esteve em “Hugo Cabret”) e como arquitetou o plano com seus amigos e comparsas para concluir o grande feito.

Reparem que o feito em si, que rendeu um livro e o premiado documentário de 2008 “O Equilibrista“, poderia ser contado de forma objetiva, mas nunca iria ter o glamour de uma abordagem subjetiva onde prosa e poesia áudio visual se encontram com muito bom humor, seja pelos exageros propositais deliciosos do elenco, seja na forma sinestésica em que o roteiro se materializa (como no momento em que tudo desaparece numa névoa imaginária no momento da travessia ou na caixa que se transforma num caixão) ou até mesmo no contraste de cores que o diretor de fotografia Dariusz Wolski de “Perdido em Marte” faz com maestria.

Além das óbvias homenagens ao circo, à música (ofício do interesse amoroso de Petit) e da fotografia (profissão e paixão de um dos comparsas), há outras inúmeras referências a arte em si, com destaque para o grand finale onde apenas a contemplação de uma determinada paisagem em fade out é por si só o cumprimento final da obra aos próprios espectadores, tal qual os ensinamentos de Papa Rudy no primeiro ato.

Também não dava pra deixar de fora o compositor Alan Silvestri, parceiro do diretor desde a época do clássico “De Volta Para o Futuro” que volta a repetir uma performance musical genial retratando todos os atos de maneira única e praticamente dando uma alma ao já ricamente elaborado movimento visual. Finalmente, falando da trama em si, pode-se dizer que o último ato tem um efeito quase que imersivo ao público com o ótimo uso dos efeitos especiais e 3D.

A Travessia” conta uma história simples de maneira fantástica, equilibrando como um exemplar para agradar o grande público, mas que vai ainda mais longe para os amantes e conhecedores da arte.

Curiosidade: Petit mora até hoje em Nova York. Abaixo uma foto dele:

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Ficha Técnica

Elenco:
Joseph Gordon-Levitt
Ben Kingsley
Marie Turgeon
Charlotte Le Bon
Catherine Lemieux
Larry Day
Clément Sibony
Steve Valentine
James Badge Dale
Ben Schwartz
Benedict Samuel

Direção:
Robert Zemeckis

Produção:
Jack Rapke
Tom Rothman
Steve Starkey
Robert Zemeckis

Fotografia:
Dariusz Wolski

Trilha Sonora:
Alan Silvestri

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